Visão
Essa história começa hoje de manhã, quando eu acordei, olhei que lindo dia fazia, escolhi minha roupa, me pesei, cumprimentei a balança e ela me cumprimentou de volta, com um sorriso. Nessa hora, pensei: "Dane-se, hoje à noite eu não vou para a academia", coisa que eu não penso assim, como se não fosse nada, há muitas semanas.
Cheguei no trabalho e conversei com Rato Morto sobre algum dos nossos passatempos dos últimos tempos: assistir a série V - A Batalha Final comendo o brownie delicioso que o Rato faz; criar uma assinatura de e-mail com a imagem de V - A Batalha Final; planejar que a gente vai mandar fazer uma camisa de V - A Batalha Final. No fim do dia, perguntei a ele se não seria um bom dia para comprarmos as nossas camisas para mandar estampar a imagem de V e andar por aí, orgulhosos de nossa nerditude. Ele ainda falou que tinha umas coisas para fazer, mas logo a sanha consumista foi mais forte e decidimos então ir ao Rio Sul.
Após uma tentativa frustrada de comprar na Hering, acabamos na Zara e saímos de lá felizes, eu com as minhas camisas, ele com as dele, e mais duas calças jeans. Estávamos meio perdidos, pensando no que íamos fazer em seguida, quando Rato começa a se contorcer igual a um bicho do meu lado, passando mal.
- É ela, Fernanda. Ai, meu Deus, é ela, eu não vou aguentar!
- Ela quem, Rato?
- ELA, a Anna, está ali!
Anna é a vilã - e personagem mais importante - adivinha do que? De V - A Batalha Final. Tá de sacanági, né? Não pode ser verdádia!
- Não, Rato, é só alguém que se parece com ela... - eu ia dizendo, até que olhei ao mesmo tempo em que ele dizia, quase chorando:
- Não, Fernanda, é ela, ela está no Brasil!
E quando eu olhei, vi que era ela, sim. Gente. A própria cobra do seriado. A ET sem emoção. Aquela que, quando não gosta da pessoa, diz "disseque-o". Ela mesma. Em carne, osso e, juro, escamas.
Implorei pra Rato não me fazer passar vergonha, mas quando vi ele já estava lá, perguntando se ela era a Anna mesmo. Aí, já que ele foi lá, eu também fui, pagar micão, dizer que ela era maravilhosa, linda. Até contamos que tínhamos ido ao shopping comprar camisas pra fazer com a cara dela. Nessa hora, acho que ela pensou em apertar o botão do pânico pra chamar o segurança.
Perdi a linha, mas não me importo. Eu nunca faço vergonha com artista. Quem mora no Rio vê artista toda hora, sábado na festa que eu fui o Gianechini estava do meu lado dançando, normal. Dane-se. Mas ele não é a Anna. Nunca foi a Anna. Até eu pegava a Anna.