Os 50 tons de chatice
A estagiária nova descobriu meu blog e eu passei parte da sexta-feira lendo com ela alguns posts clássicos desses 10 anos de vida dos porquinhos dos quais ia me lembrando. Eu ia lendo e rindo novamente, das minhas próprias piadas, porque eu sou muito autossuficiente e faço a mim mesma rir. Aí vi que não escrevo desde outubro e nem sei se sei mais como se faz isso. Mas eu sei por que não escrevo há tanto tempo. Porque prometi a mim mesma que o próximo post seria sobre o livro (?)
50 tons de cinza. E aí eu fiquei adiando indefinidamente, porque escrever sobre isso seria recordar que eu desperdicei algumas preciosas horas da minha vida lendo esse lixo, horas que jamais recuperarei.
Mas agora chegou o momento. Se vocês tiveram a sorte de não ler o livro (??), mas ainda querem ler (não façam isso), não leiam esse post, pois não me importarei em contar coisas da história. Se bem que, né, gente... que história? Nada acontece ao longo de quase 500 páginas. É muita cara de pau escrever um livro (???) deste tamanho pra nada. Quer dizer, pra nada, não. Pra enriquecer a autora.
Resumo: virgem sem graça vira objeto de desejo de um cara rico, bonito, cobiçado, que é capaz de voar e tem um terrível segredo. Mas, Fernanda, você está confundindo, essa é a história do Crepúsculo. Não, gente. Essa é a história do
50 tons de cinza. É a mesma história. Supostamente, adulta. Muito bla bla bla Whiscas Sachê depois, a gente descobre que o graaande segredo do cara é que ele é dominador, tem um quarto cheio de brinquedos de sadomasoquismo (esse não deve ser o termo técnico atual que a galera usa mas é assim que os leigos conhecem a tara do sujeito) e vai fazê-la assinar um contrato onde consta que ela tem que fazer tudo o que ele quer, não só na hora do sexo, mas também na vida (tipo usar as roupas que ele quiser, ir só onde ele autorizar, essas coisas). Nessa hora, o livro (????) me incomodou um pouco, pois conheço alguns exemplos de mulheres bem educadas e bem sucedidas que vivem assim sem contrato algum... e comecei a ter medo de que a história estivesse fazendo sucesso por conta disso.
Só que depois piora. Porque a menina nunca assina o contrato e o cara, que era pra ser sombrio, perverso, dominador, se revela apenas um bobão apaixonado com probleminhas psicológicos (que todo mundo tem, cresça, meu amigo). Ele dá um monte de presentes caros pra menina e faz tudo o que ela quer. Ou seja, o conflito da dominação não existe. Não tem conflito. Não tem história. É um tal da garota ficar o livro (?????) todo insegura, porque está apaixonada, enquanto ganha Imacs, computadores, smartphones de última geração, viagens de primeira classe... faça-me o favor, galera. Qual é a fantasia da mulherada que está babando por esse livro? Ser sustentada. Ganhar coisas, em vez de conquistar coisas. Ter alguém que diga o que elas têm que fazer, desde que isso bata com o desejo delas, claro. A coisa mais retrógrada que existe. Tudo isso encoberto por uma suposta sensualidade.
Ah, sim, vamos falar das cenas de sexo do livro, que foram descritas pra mim como arrebatadoras, de passar mal. Páginas e páginas de um sexo descritivo, sem graça, que o próprio personagem, muito apropriadamente, num ato falho da autora, classificou como "sexo baunilha". Baunilha, não, que baunilha é bom. Chuchu. E daqueles sem tempero, porque tem chuchu bom. Qualquer livro do Ken Follet tem cenas de sexo mais excitantes que aquilo, que em uma página descreve o que essa escritora não consegue fazer em 400. E não é só ele. Eu cresci lendo Sidney Sheldon escondida da minha mãe. Não me venha dizer que isso é novidade, que é literatura erótica, pelo amor de Deus!
Li até o final, consegui, porque queria fazer esse post. Pensei em ler os outros (incrível que haja mais duas, DUAS continuações), mas essa sandice rapidamente saiu da minha cabeça. I don´t care! Estou livre desses personagens horrorosos. Depois me contaram o desenrolar dos outros dois livros e eu me surpreendi. Fiquei surpresa porque continua NÃO ACONTECENDO NADA. É realmente um fenômeno. Antropólogos, por favor, dissertem sobre isso. Minha capacidade de análise vai apenas até o fim dessas linhas.