Bananas e limões
O cenário era o clássico e desesperador engarrafamento na volta da Região dos Lagos. Eu, uma amiga, meu cunhado e minha irmã voltávamos do feriadão de reveillon. Estava um frio do cão no carro (eu já estava tendo alucinações com ursos polares e huskies siberianos), meu cunhado não permitia que abaixassem o termostato do ar, que tirássemos o cinto de segurança no banco de trás e nem que comêssemos no carro. Dureza, e nem tomamos um Dreyer ou uma Kaiser antes. Imploramos para que ele nos deixasse comprar uma bananada. Qualquer coisa que nos distraísse seria como um manjar dos deuses. Ele, implacável às nossas súplicas:
- Não, essas bananadas têm muito açúcar, vai sujar todo o carrro.
- Ah, João, porfavorporfavorporfavor - fizemos coro.
Amolecido, ele grunhiu, abriu a janela e perguntou ao moço:
- Essa bananada é açucarada?
Ao que o pobre respondeu, achando que, claro, ele devia estar querendo a mais açucarada:
- Sim, claro! Açucaradinha, deliciosa!
Ao que o meu cunhado diz:
- Então não quero.
O cara saiu desesperado correndo atrás do carro:
- Esperaí, doutor, esperaí doutor, eu também tenho da lisa - e foi buscar o doce lá na puta que o pariu. Coitado.
Lembrei disso porque hoje a Ana 3x4 colorido Paula queria torta de limão azeda. Aí perguntou para a mulher do restaurante: "Essa torta é azeda?" E ela, achando que era a melhor resposta, disse "Não, é docinha!"