Pequeno gesto
Eu trabalho em um instituto de câncer com algumas centenas de voluntários e preciso dizer: no mundo encantado do voluntariado, há pessoas boas e outras nem tanto, como em qualquer lugar. Há gente que se doa mesmo, outras que têm o orgulho exacerbado por estarem fazendo uma boa ação. Orgulho não combina com solidariedade. Mas é difícil fazer algumas pessoas entenderem isso, e muitas vezes quem está ali para ajudar acaba quase dificultando a vida da instituição, querendo escolher hora, local, tarefa, demandando tíquete, vale-transporte... Voluntário é bicho classicamente espinhoso. Por isso, quando vejo um exemplar caminhando pelo hospital, não sei exatamente o que pensar. Mas outro dia, uma daquelas pequenas gentilezas amoleceu meu coração joselíptico. Estava uma chuva terrível, cheguei mal-humorada, e comecei a procurar meu crachá na bolsa. Como acontece algumas vezes, ele sumiu, misteriosamente. Meu crachá se esconde de mim nos momentos mais inoportunos, o danado. O humor começou a piorar. Aí, uma voluntária que estava esperando um paciente se aproximou de mim, sorriu e disse:
- Quer que eu segure o seu guarda-chuva para você procurar melhor?
Fiquei agradecida, o humor melhorou e o crachá apareceu.
Moral da história: não basta ser voluntário, tem que segurar o guarda-chuva.