Sem morango
Eram 10h30 de uma sexta-feira. Já estávamos no shopping e a sessão de cinema só ia começar às 0h25. Restava, então, a maior diversão, o melhor passatempo, o prazer supremo: comer! Mais precisamente: crepe. Doce. Com morangos.
O atendente simpático, com uma bandana do Brasil muito legal na cabeça (morri de inveja e tratei de comprar uma hoje pra mim), veio sorrindo com o cardápio.
- Oi, moço. Queremos um crepe de chocolate com morango.
- Humm, não tem morango!
Pois é. O lugar nunca tem morango. Pra não dizer nunca, eu já consegui comer um crepe de morango lá há um tempão. Adorei, mas, desde então, recebo sempre a mesma resposta.
O jeito foi pedir outra coisa. Dei uma olhada nos complementos, tinha um monte de opções, dava pra montar um crepe personalizado pedindo pra adicionar chantilly, doce de leite, abacaxi, chocolate... e morango. Fiquei imaginando fazer como naquela velha piada do Chaves, virar pro cara e dizer:
- Ah, me vê então um crepe de sorvete de creme, castanha, chocolate e morango.
- Senhora, não tem morango.
- Humm... então um de doce de leite, queijo minas e morango.
- Anh.. não tem morango.
- Ah... então me vê só os morangos e já está bom.
Não fiz isso com o pobre, que no mínimo iria constar a minha insanidade mental e sair correndo pedindo ajuda. Pedi um de sorvete de creme, castanhas, chantilly e chocolate. Quando ele trouxe, todo sorridente, brincou:
- Pois é, a culpa é dos morangos. Quem manda ter época para nascer? Se desse todo ano...
Na loja ao lado da creperia, um cheese cake com vários gordos morangos na cobertura acenava para mim.
Devem ter sido importados do convento das freiras cegas da Dinamarca.