Comida de cão
Minha família sempre gostou de cachorros. Quando eu morava em casa, tínhamos uns vira-latas grandes. Na época, meus pais ainda não haviam entrado na moderna era da ração, então os bichos recebiam comida de gente, que minha mãe preparava especialmente para eles. O Bill, meu cão malhado de branco e amarelo, comia todos os dias uma panela de pressão de macarrão com carne (pelanca ou o chamado bofe, uma mistureba de vísceras de boi - eca) que tinha uma cara ótima. O cachorro comia na panela mesmo. A aparência da comida era tão boa que, uma vez, uma daquelas amigas da família que entram em casa sem cerimônia viu a panela em cima do fogão, serviu-se de dois pratões daquela gororoba e comeu com vontade. A comida do cachorro, na panela que o cachorro comia, com aquela carne de quinta categoria. Ainda disse que estava uma delícia.
Minha mãe, Joselita, não furtou-se de contar à amiga o verdadeiro destino da refeição que ela havia acabado de degustar.
A sorte é que minha mãe sempre lavava a panela depois que o cachorro comia.
Ao menos, foi o que ela disse.