Livre-se dele
Quando fui a Curitiba nas férias do ano passado, encontrei por lá uma casa divertidíssima, com dois sobrinhos postiços e um gato. Na verdade, uma ex-gata de rua à qual todos continuavam se referindo como "o gato" por só terem lhe descoberto o sexo bem depois que ela foi parar na casa.
Era uma gata arisca, mas com a minha sobrinha postiça, na época com 5 anos, ela não tirava nenhuma farinha. A menina vivia dizendo que não gostava do bicho e que ia chamar o Ciclope (um rottweiller que eles tiveram) para acabar com ela.
Uma manhã, a criança passeava para lá e para cá com um saco dourado nas costas. Carregava o embrulho com dificuldade, como se estivesse pesado.
- Marcela, o que é isso? O que tem aí dentro?
Ela continuava andando.
- É o gato.
- Ah, um bichinho de pelúcia que você colocou aí dentro...
- Não. É o gato.
Apalpei o embrulho e entendi que realmente ela tinha colocado a gata lá dentro. A bichinha podia morrer sufocada ali.
- Marcela, meu amor, solta o gato.
- Não.
- Mas se você deixá-lo aí ele vai morrer, você quer que isso aconteça?
Então ela me olhou com uma expressão divertida.
- Sim! Não gosto de gatos. Vou me livrar dele.
Não houve jeito de fazê-la soltar o bicho. Só o irmão dela, quase um adulto de 10 anos, conseguiu com uma singela frase.
- MARCELA-SOLTA-O-GATO-AGORA
- Sim, sim.
O poder do irmão mais velho.