Era uma mulher e seu bebê. Entraram pela porta de trás do ônibus, na Haddock Lobo. O bebê era uma criança linda, risonha. Um menino. Estava sem camisa, porque o calor que está fazendo não anda nada fácil. Ainda há respeito por alguém com um bebê de colo. Imediatamente, várias pessoas ofereceram-se para levantar e ceder o lugar, mas a mulher, com o semblante sereno, apenas sorria e dizia que já ia descer, mesmo segurando a criança com apenas um dos braços, para, com o outro, segurar-se no ônibus. Olhei perdida o rosto divertido daquela criança. Muito bom poder contemplar um bebê de manhã. De repente, meu coração apertou. Percebi que se aproximava o Hospital do Câncer. A mulher desceu exatamente no ponto do Hospital. E eu achei tremendamente injusto que aquele serzinho, tão pequeno, no colo daquela senhora tão plácida, pudesse estar indo para lá, que fosse uma daquelas crianças em tratamento. A gente se acostuma que há crianças que têm câncer. Mas é muito difícil quando se repara nelas, quando elas deixam de ser estatística, e se tornam bebês reais, no colo de alguém. Da mãe, da avó, do pai ou de uma pessoa que os ama muito.
A mulher caminhou na direção oposta do Hospital.
Era isso que eu tinha para dizer hoje.