"A noite não tinha estrelas. Ela tinha reparado nisso mesmo com a claridade das luzes artificiais da cidade, apenas porque precisava se concentrar em algo. Depois, sua amiga começou a falar. Estava falando sobre alguma coisa. E ela, então, lutou para prestar atenção na amiga.
A amiga falava. E ela ressentia-se de nunca terem avisado que paixão não-correspondida doía. O que ela sempre tinha ouvido falar era que isso passava rápido, e que logo apareceria outra pessoa e outras bobagens do tipo. Bobagens porque nada daquilo era verdade. A verdade era que aquela sensação incômoda que lhe atravessava o peito, como se uma mão de ferro comprimisse seu coração, não tinha dia nem hora para passar.
Sabia que, assim que se separasse da amiga, começaria a se perguntar se não dar bola para a pessoa que não dava bola para ela era realmente a melhor atitude a se tomar. Queria alguém que lhe dissesse que sim, sem teorizar, sem pesar prós e contras. Apenas alguém que lhe dissesse "Sim, você agiu corretamente", para que ela pudesse dormir em paz naquela noite.
Mas a amiga queria decidir de que cor pintaria as paredes de sua nova casa. E ela precisava acreditar que aquela questão era realmente importante. Para que a dor no peito fosse embora, nem que fosse apenas por alguns minutos. Até que ela ficaria sozinha novamente. Com a dor. E nunca se sabe por quanto tempo."