Insensível
Na quarta-feira, cheguei lá na empresa e tive a notícia de que um funcionário havia morrido. Era um senhor já, 73 anos, mas tava lá bem, trabalhando. Que mania essas pessoas têm de morrer!
Mas a vida continua e, esta semana, teve a festa de fim de ano, um evento complicado e cheio de detalhes diferentes para darem errado no dia. Um deles é uma premiação que fazemos para os funcionários destaques, prestadores de serviço e aposentados do ano. No total, mandamos fazer e emoldurar 118 diplomas, cada um deles assinados pelo diretor.
No dia em que o funcionário morreu, os diplomas chegaram. Fiquei aliviada - menos uma coisa para me preocupar. Quando fui embora naquele dia, deixei o estagiário Vovô Alaérpio conferindo cada um deles e colocando em ordem analfabética - uma tarefa inglória que o fez odiar todos os destaques e pensar que o mundo poderia, sim, ser muito ruim.
No dia seguinte...chego na empresa e a outra estagiária, Vivi Megafone, assim me aborda:
- Fernanda, eu não tenho uma boa notícia para dar a você.
Meu coração apertou e diminuiu de tamanho. Pensei imediatamente:
"Ai, meu Deus, os diplomas. Aconteceu alguma coisa. Vieram errados. E agora, na véspera da festa, não dá pra consertar. Ai, meu Deus, ai, meu..."
- O que foi, Vivi? Fala logo.
- É mais um falecimento.
Soltei um suspiro de alívio. "Não são os diplomas, é só alguém que morreu."
- Quem foi dessa vez?
- O Joselito Marinho.
Instintivamente, busquei o aquário, vi que ele estava vazio e aí lamentei a perda.
Mas os diplomas sorriam para mim, intactos, conferidos e em ordem alfabética.