Bons tempos
Adoro as minhas aulas de dança, mas admito que senti uma certa alegria quando o dono da academia me telefonou hoje dizendo que a minha professora teria que faltar. É uma reminiscência da época de colégio, quando a gente adorava não ter aula e ficar 50 minutos conversando no pátio ou ir pra casa mais cedo. Aliás, tinha coisa melhor que estudar "obrigado"? Aquela sensação de que a gente não podia sair dali a hora que quisesse, então, a gente se sentia livre pra ficar feliz quando nao tinha aula ou, quando tinha, fazer bagunça e conversar o tempo todo. A partir da faculdade, que graça tem fazer zona se a gente sabe que pode sair a qq momento e ir embora?
Foi no primeiro ano do segundo grau que eu mais toquei o zaralho em sala de aula na minha vida. Fui parar em um colégio que era uma boate. Acho que faliu ano passado, para vocês terem uma idéia de como era. Chamávamos de "Adeus Dinheiro Nosso"ou "Associação de Drogas e Narcóticos", porque a sigla era ADN.
Era uma turma elorme, umas 60 pessoas. Sessenta pessoas ruins da cabeça e que nào queriam lada com lada. Alguns professores se mandaram durante aquele ano.
Professora de inglês, então, não parava. Tivemos pelo menos três. Aquele povinho Zona Sul que estudava lá podia ser tudo burro, mas inglês todo mundo sabia, pq 99% fazia curso. Então as aulas de inglês eram ainda mais esculachadas.
Uma vez, a pobre professora levou um exercício. Ela fez várias cópias e distribuiu as folhas uma para cada aluno. Aproveitando um momento de distração da coitada, um amigo nosso pegou duas folhas, esperou a mulher se virar, fez um aviãozinho e pimba! atirou nela. E o avião ficou grudado no cabelo dela, espetado. Ela se virou babando que nem uma fera raivosa, tirou o papel da cabeça enquanto todos se mijavam de rir e teve um ataque de pelanca quando viu que, além de terem jogado o aviãozinho, ainda por cima a matéria-prima era a folha de exercício que ela tinha levado.
- QUEM TACOU ESSE PAPEL???
Oh, pícara sonhadora, ninguém vai se acusar, né? Aí o meu amigo que tacou o papel levantou o dedo e disse:
- Professora, por que você não vai de carteira em carteira vendo quem tem o papel? Quem não tiver, é porque usou para fazer o aviãozinho!
Não é que a mulher fez mesmo isso e, lógico, todos tinham o exercício porque o delinqüente tinha pegado dois?
A gente também tinha mania de sentar no sol e apontar o reflexo do relógio para a cara do professor. Nào de um relógio, mas de uns 10 ou 15 que sentavam juntos e juntavam os reflexos lá na frente, formando um verdadeiro holofote. Também fazíamos fogueira no meio da sala, afastávamos as cadeiras e recolhíamos uma folha de cada caderno para fazer um foguinho.
Naturalmente, meus pais deram um jeito de me tirar desse antro assim que o ano terminou. Mal sabiam eles que o dano cerebral decorrente daqueles meses seria irreversível.