"Devia ser sonho. Ou melhor, pesadelo. A maneira como ela estava ali, visualizando aquela cena, como se estivesse assistindo a um filme, não poderia ser real. Primeiro ela viu a bicicleta. Um bicicleteiro maluco, correndo alucinado por uma ladeira à beira de um pequeno precipício. Atrás dele, um carro desgovernado. Ela achou que o carro fosse parar, ele tinha que parar para que não acontecesse um acidente.
A crença de que tudo aquilo era um pesadelo foi reforçada quando Rebeca, ao olhar para o carro em alta velocidade, soube imediatamente quem o estava dirigindo. Pedro, o ex-namorado, que a havia abandonado no mês anterior. Aquilo não podia ser real. Como ela saberia que era ele? Ela não estava VENDO o motorista e o carro não era o dele. Era um carro velho, caindo aos pedaços. Ficou tentando imaginar o porquê dele estar com aquele carro. Dele estar ali. De estar correndo daquele jeito atrás da bicicleta. E só em sonho mesmo ela poderia ter pensado tanta coisa antes do acidente iminente acontecer de fato.
A bicicleta tombou. O carro voou para o buraco. Ela ainda teve alguma esperança de que ele não tivesse sofrido nada, mas olhou o veículo capotado de longe e soube o que iria encontrar quando se aproximasse. Tremendo, foi até lá devagar, afastando sem muita convicção a horda de curiosos que descia para ajudar. Reconheceu o cabelo. Viu sangue. E achou que fosse morrer naquele instante, fulminada por uma dor da qual ela já tinha ouvido falar, mas que sequer imaginava que força possuía, o quão doída realmente era. Sentou-se na beira da estrada e começou a arrancar freneticamente tufos de capim do chão, enquando chorava como nunca pensou que seria capaz de chorar. “Eu deveria ter dito que o amava. Mesmo que ele tenha terminado, ele não podia morrer sem saber disso, ele precisava saber...”, e chorava, chorava... até que alguém chegou perto dela e perguntou se ela conhecia o rapaz. E então ela percebeu que precisava fazer alguma coisa."
(CONTINUA...)