A moça do lado de fora
Ela era negra, alta, magra e com cara de que não leva desaforo para casa. Naquele momento, estava também com cara de nenhum amigo e gritava do lado de fora do ônibus.
Resolvi tirar os fones dos ouvidos para entender o que ela estava dizendo, ou melhor, berrando.
- Eu quebro essa porra toda! Experimenta não parar para a minha mãe, seu filho da puta! Não é favor que você faz pra ela, não, é um direito que ela conquistou.
Isso foi o de menos. Ela vociferou coisas impublicáveis para o motorista, que precisou conformar-se em ouvir tudo porque estava parado no sinal.
Compreendi o que tinha acontecido (Bruno e Marrone, meus dois neurônios que vivem dormindo na praça, por acaso estavam acordados): o cara não tinha parado para a velhinha mãe da moça, ou ameaçou não parar.
Bem-feito.
Pra velhinha, não, gente. Pro motorista. Já que ligar para 0800 e mandar carta pros jornais pra reclamar desses malucos que dirigem os ônibus não adianta nada, ao menos pude ter o prazer de ver um deles passar por um constrangimento público e ser alvo de palavrões novos e antigos.
Um viva para a moça barraqueira. Da próxima vez que eu vir uma coisa errada, acho que vou gritar feito louca, como ela.