domingo, junho 15, 2003
Para quem já viu Matriz Reloaded
Nós, simples humanos, não conseguimos acompanhar palavra por palavra do diálogo entre Neo e o Arquiteto. Aí vai ele, na íntegra, para ler, reler e reler... e aí sim entender tudo. Ou não.
Neo e o Arquiteto
O Arquiteto - Olá, Neo.
Neo - Quem é você?
O Arquiteto - Eu sou o Arquiteto. Eu criei a Matrix. Eu estava esperando por
você. Você tem muitas perguntas, e embora o processo tenha alterado sua
consciência, você permanece irrevogavelmente humano. Portanto, algumas das
minhas respostas você vai entender, e algumas delas não. De forma
concordante, enquanto sua primeira pergunta talvez seja a mais pertinente,
você pode ou não perceber que ela é também irrelevante.
Neo - Por que eu estou aqui?
O Arquiteto - Sua vida é uma soma de um resíduo de uma equação
desequilibrada inerente à programação da Matrix. Você é a eventualidade de
uma anomalia, a qual, apesar de meus mais sinceros esforços, sou incapaz de
eliminar do que é, de outra forma, uma harmonia de precisão matemática.
Enquanto isto continua sendo uma aflição a ser aplicadamente evitada, ela
não é inesperada, e dessa forma não está além de uma medida de controle. E
foi isso que, inexoravelmente, trouxe você aqui.
Neo - Você não respondeu a minha pergunta.
O Arquiteto - Correto. Interessante. Você foi mais rápido que os outros.
(As reações de outros Predestinados aparecem nos monitores: Outros? Que
Outros? Quantos? Responda-me!)
O Arquiteto - A Matrix é mais antiga do que você imagina. Eu prefiro começar
a partir do surgimento de uma única anomalia integral até o surgimento da
próxima, e neste caso, esta é a sexta versão.
(Novamente, as reações dos outros Predestinados aparecem nos monitores:
Cinco versões? Três? Eu tenho sido enganado também. Isso é mentira!)
Neo - Há apenas duas possíveis explicações: ou ninguém me contou, ou ninguém
sabe nada.
O Arquiteto - Certamente. Como você está indubitavelmente captando, a
anomalia é sistemática, criando flutuações até mesmo nas equações mais
simplistas.
(Novamente, as reações dos outros Predestinados aparecem nos monitores: Você
não pode me controlar! Dane-se! Vou matar você! Você não pode me obrigar a
fazer nada!)
Neo - Escolha. O problema é escolha.
O Arquiteto - A primeira Matrix que eu projetei era naturalmente perfeita,
era uma obra de arte, sem defeitos, sublime. Um triunfo igualado somente por
sua monumental falha. A inevitabilidade de sua perdição é evidente para mim
agora como uma conseqüência da imperfeição inerente a cada ser humano. Dessa
forma, eu a reprojetei baseada na história humana para refletir, com mais
precisão, os variantes aspectos grotescos de sua natureza. No entanto, eu
fui novamente frustrado pela falha. Desde então, comecei a entender que a
resposta me iludiu porque ela requeria uma mente menor, ou talvez uma mente
menos limitada pelos parâmetros da perfeição. Dessa forma, a resposta se
colocou no caminho de outra, um programa intuitivo, inicialmente criado para
investigar certos aspectos da psiquê humana. Se eu sou pai da Matrix, ela
seria, sem dúvidas, sua mãe.
Neo - O Oráculo.
O Arquiteto - Por favor. Como eu estava dizendo, ela se colocou no caminho
de uma solução, segundo a qual aproximadamente 99,9% de todas as pessoas
testadas aceitaram o programa, desde que fosse dada a elas uma escolha,
mesmo se elas estivessem cientes dessa escolha em um nível quase
inconsciente. Enquanto essa resposta funcionou, ela era obviamente
defeituosa em sua essência, criando, dessa forma, a contraditória anomalia
sistemática, que, se não for verificada, pode ameaçar o sistema em si.
Portanto, aqueles que recusaram o programa, enquanto uma minoria, se não
forem verificados, podem constituir uma probabilidade agravante de desastre.
Neo - Isto é sobre Zion.
O Arquiteto - Você está aqui porque Zion está prestes a ser destruída. Cada
um de seus habitantes exterminados, sua existência inteira erradicada.
Neo - Mentira!
O Arquiteto - A negação é a mais previsível das reações humanas. Mas, tenha
certeza, esta será a sexta vez que destruímos Zion, e temos nos tornado
excessivamente eficientes nisto.
O Arquiteto - A função do Predestinado é agora retornar à Fonte, permitindo
uma disseminação temporária do código que você carrega, reinserindo o
programa principal. Depois disso, você terá que escolher 23 indivíduos da
Matrix, 16 mulheres, 7 homens, para reconstruir Zion. A falha no cumprimento
deste processo vai resultar em uma cataclismática queda do sistema, matando
todos que estão conectados à Matrix, o que, aliado à exterminação de Zion,
resultará finalmente na extinção de toda a raça humana.
Neo - Você não vai deixar isso acontecer, você não pode. Você precisa dos
humanos para sobreviver.
O Arquiteto - Há níveis de sobrevivência que estamos preparados para
aceitar. No entanto, a questão relevante é se você está ou não pronto para
aceitar a responsabilidade pela morte de cada ser humano neste mundo
(O Arquiteto pressiona um botão em uma caneta e imagens de pessoas de toda a
Matrix aparecem nos monitores.)
O Arquiteto - É interessante ler suas reações. Seus cinco predecessores
foram projetados baseados em uma predicação similar, uma afirmação
contingente que foi feita para criar uma profunda ligação ao restante de sua
espécie, facilitando a função do Predestinado. Enquanto os outros viveram
isso de uma maneira comum, a sua experiência é muito mais específica. Amor.
(Imagens de Trinity lutando contra o Agente do sonho de Neo aparecem nos
monitores)
Neo - Trinity.
O Arquiteto - A propósito, ela entrou na Matrix para salvá-lo ao custo da
própria vida.
Neo - Não!
O Arquiteto - O que nos traz, enfim, ao momento da verdade, onde a falha
fundamental é finalmente expressada e a anomalia revelada tanto como um
início e um fim. Existem duas portas. A porta à sua direita leva à Fonte, e
à salvação de Zion. A porta à sua esquerda leva de volta à Matrix, a ela, e
ao final de sua espécie. Como você adequadamente colocou, o problema é
escolha. Mas nós já sabemos o que você vai fazer, não sabemos? Eu já posso
ver a reação em cadeia, os precursores químicos que sinalizam o princípio da
emoção, projetada especificamente para sobrepujar lógica e razão. Uma emoção
que já está lhe cegando da simples e óbvia verdade: ela vai morrer e não há
nada que você possa fazer para impedir isto.
(Neo caminha em direção à porta a sua esquerda)
O Arquiteto - Esperança, a ilusão humana quintessencial, simultanteamente a
fonte de sua maior força, e sua maior fraqueza.
Neo - Se eu fosse você, torceria para não nos encontrarmos novamente.
O Arquiteto - Isto não acontecerá.
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