FESTA NA ROÇA - PARTE II
Papos non-sense
Tinha a amiga da minha prima. Gente boa, ela. Estava lá, desfilando seus quilinhos a mais, sem se importar muito com isso (uma pinóia! Ela não comeu lada, naturalmente estava de dieta. Onde já se viu mulher não se importar com as gorduras? Vocês acreditaram nisso por um segundo?). A amiga reclamava obsessivamente do frio e teve uma hora que eu falei para ela ir pra perto da fogueira. E ela:
- É... já que eu não tenho ninguém para esquentar as minhas mãos...
E eu:
- Isso. Quem não tem cão, caça com gato.
E ela:
- Se ainda fosse realmente um gato...
E eu, com um suspiro:
- Ô... um gato caía bem.
Ela: - Gato até tem, mas ele está bebendo leite no pires da vizinha. Aí a gente precisa chutar o gato.
Eu: - Que nada! Chuta a vizinha e fica com o gato.
A mulher adorou! Pior é se a metáfora levar a menina a fazer alguma bobagem, influenciada pela louca da cidade. Posso ser a responsável por um lar desfeito. Vou dormir na pia da cozinha hoje, de preocupação.
Quadrilha
Lá pelas tantas, começou a quadrilha. Eu estava jogada no chão, ainda traumatizada com o chato do bingo, quando uma das pessoas vestidas a caráter (sim! Porque as pessoas estavam vestidas a caráter, em sua maioria. Eu é que não fui, porque sou muito elegante pra pagar esse micão todo. Passo o sábado solteira e na roça, mas com classe, em cima da minha bota de salto alto) começou a gritar lá de dentro:
- Alguém pode vir aqui apertar o play? Por favor, alguém aperta o play?
Eu fiquei olhando com uma cara de screen saver flying windows, meu olhar perdido no horizonte... por que diabos ela queria que alguém apertasse o play para ela se ela estava do lado do som? Como eu olhei muito, a fantasiada olhou para mim e pediu, dessa vez com destino certo:
- Você pode vir aqui apertar o play?
Fui levantando lentamente e indo até ela, até que ela saiu correndo e dizendo:
- Aperta quando eu disser!
E aí eu entendi que era porque ela ia dançar a quadrilha.
Ah, tá. Frio congela o cérebro.
Play apertado, começou a tal quadrilha. A música tinha um maluco dando aquelas instruções do tipo: “damas do lado direito, cavalheiros do lado esquerdo”, “agora a grande roda”, e, com isso, qualquer criança consegue dançar. Eu já ia me perguntando por que então as pessoas ainda ensaiam quadrilha, quando eles começaram a fazer TUDO ERRADO. O tiozinho do CD falava “roda” e a galera achava divertido fazer túnel. Falava “fila” e as pessoas faziam caminho da roça. Meu coração de virginiana acelerou e eu estava a ponto de ir lá e avisar que não era nada daquilo, quando acabou.
Como tudo acabou
À meia-noite, saímos de lá. Eu posso ficar acordada até às 5h, mas não depois de ter comido dois bois, bebido e com aquele frio todo. Papai devia estar em outro planeta de tanto quentão e goró. Fomos andando tortos até a casa da minha tia, onde aterrissei em uma bela cama e dormi como um bebê. Um bebê gordo.
Baixada Fluminense é puro trash
Antes de vir para casa, a tranqüilidade da manhã foi quebrada por um carro de som que anunciava um tal de Fest Show.
- Para quê pagar caro em outros lugares? Aqui você se diverte e a entrada custa só cinqüenta...
Pôxa, caríssimo! Esse povo aqui está rico!
- ... centavos!
!
Como assim, cinqüenta centavos???
Para fechar com chave de ouro
Mamãe Joselita fazendo os comentários de sempre:
- Ih, fulana está roliça... e sicrana, então, hum! Fulano de tal está muito gordo, é o pior.
E para mim:
- Poderosa mesmo, só você!
Não, mãe, elogio de mãe não vale. Eu já entro logo com 23 cromossomos de vantagem.