Aventuras aulísticas
Cheguei atrasada na aula e tive que desalojar as coisas de uma garota. Quem aparece tarde não tem jeito: precisa escolher uma cadeira para tirar bolsas, pastas, livros de alguém, porque não sobram lugares assim fácil. Se duvidar, a gente tem que abater um a tiros pra conseguir uma vaga.
Quando ela percebeu que eu ia sentar LOGO na cadeira em que ela tinha colocado as tralhas dela, me olhou com o olhar mais antipático do mundo. Tá que eu olho do mesmo jeito, e até pior, para quem faz isso comigo, mas quem disse que eu sou imparcial? Eu não mereço receber olhares raivosos porque sou meiguinha, cordata e tolerante.
Mentalmente, praguejava por ter sentado ali, ao lado de uma pessoa sem loção, com cara de presepeira, mal amada, reclamuda. Não podia eu ter escolhido alguém legal? Mas não, pícaro, tinha que escolher a chata da turma.
Aula vai, aula vem, e eu tenho A crise de tosse da noite. Daquelas que parece que o seu fígado vai sair pela boca, porque o pulmão já derreteu há muito tempo e saiu com os perdigotos. No meio do meu desespero, a garota diz:
- Você quer uma bala?
Amigas para sempre. Melhor, só se tivesse me oferecido um doce de leite. Ou sacado de dentro da bolsa um empadão de queijo. "Fernanda, aqui, toma esse empadão." Aí eu até casava com ela.