De noite...
Por causa daquele filme bobo, feio e chato que eu vi ontem, acabei sonhando que Papai Joselito tinha morrido. No primeiro dia em que eu ia trabalhar normalmente depois do que tinha acontecido, minha mãe, que detesta acordar cedo como 90% das pessoas, estava acordada pra fazer o café pra mim, como Papai sempre fazia, pra que eu não sentisse muito. Lembro de ter pensado no quão sacrificante estava sendo pra ela fazer uma coisa pra tentar me consolar quando ela mesma estava arrasada. O sonho cortou para a faculdade... e eu estava sentada num meio fio, sozinha, chorando, sem me importar muito com o mundo em volta. Que mundo poderia importar em um momento como aquele? Um sujeito sentou-se do meu lado e eu tive a impressão de que ele queria me cantar (em sonho, a gente sabe essas coisas). Então ele perguntou por que eu estava chorando (devia estar mesmo muito a fim de mim, pra se aproximar de uma doida chorando baldes. Parada mais social!), provavelmente achando que era uma coisa boba. Eu respondi:
- É que meu pai morreu ontem.
Ele tentou parecer blasè, não demonstrar que não esperava que fosse algo tão sério. Eu comecei a falar que eu adorava ele... que conversava com ele todas as manhãs, que ele fazia café pra mim e depois ia comigo conversando até o ponto de ônibus... eu falava com aquele estranho sem o menor pudor. Até que ele olhou bem pra mim e disse:
- Fernanda, nada disso aconteceu. Seu pai não morreu.
Eu olhava para ele sem entender muito bem, mas sabendo que a resposta estava vindo na minha cabeça.
- Fernanda. Acorda. Seu pai não morreu. É sonho.
Todo mundo que perde alguém querido deve querer ouvir de repente que nada daquilo aconteceu realmente. No meu caso, graças a Deus, era mesmo apenas um pesadelo.