Poesias horrorosas
Um dos traços da minha personalidade doente é não gostar de poesia. É, eu não gosto. Se for muito bem feita, eu até admiro, um Fernando Pessoa ainda vai. Mas, em geral, rimou, me irrita. Aquelas que não rimam, eu ainda tolero, aliás, fico até aliviada em ler. Rima, só em música. E com restrições.
Mas o que me deixa quase à morte mesmo é ler poesias totalmente mal escritas. De gente que acha o máximo rimar solidão com coração e diz por aí que escreve poesia por isso. Isso pra mim é pior que trocadilho infame. Lixo. Gente que tenta escrever poesia sem saber é pior que Alexandre Pires, porque o Alexandre Pires pelo menos está cheio do dinheiro.
Outro dia, Mel passa o Rodo mostrou pra mim o supra sumo da poesia horrenda. Um sujeito mandou para ela em forma de torpedo. Sintam só o naipe do rapaz:
"Hoje percebi
que ter conhecido você
trouxe cor em meu viver
saiba que meu coração pensa em você"
"Você" rimando com... "você"! Expressão máxima da criatividade e da riqueza vocabular.
Tem mais:
"Bom dia
pois o sabor da vida
é amar com alegria
na qual a sua me sua me contagia"
Essa aí ainda por cima quase não faz sentido.
Pior que outro dia o mesmo cara disse pra Mel que tinha um presente pra ela. Ela foi toda empolgada, crente que era um chocolate, e o sujeito disse que era o quê, o quê, o quê? Uma poesia! Ela respondeu, decepcionada:
- Ah, tá, depois você me dá...
E esqueceu o assunto.
Ninguém precisa de versinhos assim, precisa?