REVEIÃO - PARTE II
O são do reveião
Estava eu tranqüila e calma feito água de poço lendo na rede, aquele vidão, aquele silêncio... ni qui eu escuto um som demoníaco, algo que danificou meus ouvidos para sempre. Perdida, fui com medo conferir o que estava acontecendo. Era Filha da Chata que, feliz, estava ouvindo um CD do... KLB. KLB, cara. Ninguém tem idéia do que é KLB. Só quem ouve, sabe. E o CD era interminável. Devia ter umas quatro horas e meia. Era um KLB ao Vivo que Chata pra Caraca ganhou pra filha na Breguenteioito. Mas viria coisa pior.
A coisa pior
Quando finalmente acabou o endless CD, após uns 15 segundos de paz, eis que algo muito pior começa a destruir o ambiente sonoro. Broz. Eles fizeram KLB parecer Vivaldi.
E quando o Broz acabou, eu me atirei como uma fera raivosa em cima do som e, babando, grunhi:
- Agora, um CD meu.
E foi assim que ouvimos até furar o CD da Maria Rita. Era Maria Rita, Marisa Monte, Maria Rita, Ana Carolina, Maria Rita, Tribalistas, Maria Rita... Após muita resistência, estou totalmente rendida a ela.
Tolerância zero
Chata pra Caraca por várias vezes testou a minha paciência, quase arruinando com outra resolução de ano novo, a de ser uma pessoa legal em 2004. Em uma dessas vezes, após observar que o que mais fiz nesse feriado foi ler, que o livro de 400 páginas já estava quase no final, comentou:
- Você gosta de ler, né???
Não, Pedro Bó. Estou com o nariz enfiado no livro para não ter que ser sua amiga.
O que bem poderia ser verdade.
O dia 31
E eis que, às 20h, eu acabando de voltar da praia... a luz acaba. Apoiada em minha resolução de ano novo de ser uma pessoa otimista, prontamente declarei:
- Daqui a pouco volta.
O pouco durou até 1h30 da manhã quando todos exaustos e devidamente imbuídos do espiríto do novo ano, já iam dormir.
É isso, cabeçada: passei o reveillon sem luz elétrica. U-hu! Como os homens primitivos! Em absoluto contato com a natureza. Uma natureza que tinha um lampião potente, terraço, ceia, som com CD funcionando a pilha e queima de fogos. Como é boa a vida natural.
Tive pena de verdade de Filha da Chata, que queria ver o KLB na Bobo, no show da virada. Só falava nisso, a pobre. Para evitar que ficássemos todos olhando no relógio esperando dar meia noite (eu sei que eu sou esquisita, mas é que sempre achei isso patético em virada de ano, a pessoas tomando conta do relógio), procurei uma rádio que fosse fazer a contagem. Como eu não queria pensar muito, coloquei logo na Breguenteioito, que eu sabia que aqueles locutores macacudos iam fazer algum escândalo quando chegasse a tão esperada HORA. Animou que foi uma beleza! Eles colocam uns sambões e uns pagodes que eu fiquei lá dançando com as pessoas mais animadas: minha madrinha e Papai. A Família Chata estava prostrada, com os olhinhos vidrados mirando o horizonte, como se a falta de luz fosse uma terrível tragédia que tivesse se abatido sobre a casa.
A verdadeira tragédia
Tragédia, nada! Tragédia seria se Mamãe, com todo o seu heroísmo herdado dos antepassados ciganos, não tivesse aniquilado com a vida de uma barata de três metros que apareceu bem no meu quarto. Pior é que, sem luz, o bicho morto perdeu-se pelo chão e eu tive que dormir o primeiro sono de 2004 acompanhada da Filha da Chata e de um cadáver. Espero que isso não represente nenhum prognóstico para este ano. Ou que dê sorte. Sei lá.
Feliz 2004
A única pessoa pra quem eu me dignei a ligar pra desejar um bom ano novo trocou de celular e eu nem sabia. Tive que ouvir uma linda mensagem da Claro anunciando número inexistente. Como diz Ana Pola, até uma planta sabe que é difícil falar com outros celulares no dia 31, mas eu tentei assim mesmo, pra descobrir a tal da mudança. Como eu não tenho mais loção do número de casa do ser, acabou tudo em pizza. Pizza, não, bacalhau, que em casa de português qualquer festa é igual a bacanal, quer dizer, bacalhau.
A reconciliação
Filha da Chata virou minha amiga de infância (o que é tecnicamente impossível, já que, na minha infância, ela nem existia ainda) quando certo dia, na praia, ela me olhou e disse:
- Você não tem barriga, né?
Adoro essa menina. Ela me deu conselhos sábios como “Fernanda, como você vai conhecer algum menino se não quer sair?”. Singelo. Conhecer um menino. Então, tá.
E assim, tudo acabou
Às 14h de sábado eu embarcava em um lindo ônibus da Lool e vinha pra casa. No primeiro sábado de 2004, fui pra noitada com
Ana Pola e Thirso. Noite legal, apesar de ter descoberto da pior forma possível que Matriz só mesmo na sexta.