O Carnaval do cagão
O gringo vem de longe passar o Carnaval no Brasil. Vem sonhando com as mulatas, o ritmo alucinado do samba, praia, sol, mar... e salsichão. Salsichão? Como assim, Bial? Avisa pro gringo que o estômago europeu dele não agüenta uma porrada dessas! É intoxicação alimentar líquida e certa. Mais líquida do que certa. Salsichão não, tá? Alguém conta isso pra ele.
Pois é, só que ninguém quebrou o galho do gringo. O gringo em questão estava no Cordão do Bola Preta, Carnaval de 2004, desfrutando de todas as maravilhas que veio buscar na nossa terra tropical. De repente, bate aquela fome, ele olha pro lado e vê. Um ambulante abençoado vende um salsichão de origem mais que duvidosa. Vermelho, roliço, reluzente. Nosso gringo arremata o quitute e o devora, enquanto seus amigos brasileiros desnaturados estão sambando e brincando e nem notando que o pobre se empanturrou com uma bomba de nêutrons.
Uns 15 ou 20 segundos depois, o sujeito manifesta a vontade de ir ao banheiro. No Cordão do Bola Preta. Era hora de quê? De alguma das pessoas que estavam com ele acompanharem o cara. Afinal, um nórdico que não fala uma palavra sequer de português caçando um banheiro em plena Cinelândia lotada de foliões não era coisa lá muito segura. Mas à vontade manifesta...
- Onde tem um banheiro por aqui?
... os mui amigos responderam algo semelhante a um "sei lá, procura" e continuaram sambando e brincando. E lá foi o gringão desesperado em busca do alívio.
O problema é que o alívio chegou antes da hora. Nosso herói antes de conseguir chegar ao banheiro não agüentou e... é, é isso mesmo. Cagou-se.
Então aquela tora de 2 metros de altura, sozinho, sem falar português e cagado, perambulava pelo Centro da cidade. Perambulava naquela situação tentando se aproximar de um vendedor de água que ele usaria pra se lavar, já que não conseguiu encontrar o banheiro. Só que, a essa altura, ninguém queria chegar perto dele pra vender nada, muito menos pra ajudar. Ninguém queria chegar perto dele, ponto. Ele não encontrava os amigos (???). E nem o bendito banheiro.
Situação difícil, hein, Mister M? O que você faria para se safar dessa?
Você, eu não sei. Mas o gringo foi andando, andando... tentando pegar um táxi, que, quando passava, não deixava ele entrar, por motivos óbvios... e então humilhado, prestes a se tornar mais uma pessoa marginalizada nas ruas do Rio de Janeiro por não conseguir voltar pra casa, então eis que ele chega na Praça XV. Vislumbra a Baía de Guanabara. E SE JOGA pra se limpar.
Com isso, o gigante consegue chegar em casa. Se ele sobreviver à hepatite ou à verminose letal que irá contrair depois desse mergulho, provavelmente nunca mais volta ao Brasil. Ou mata os amigos desnaturados lazarentos de uma figa. Eu no mínimo rogava uma praga de cinco gerações de filhos cagalhões.
Poderia ser um quadro de "merda acontece", do Hermes e Renato. Mas aconteceu de verdade.