O post do louco
Estava eu para atravessar a rua, a mais distraída de todas, porque estava pensando em como encaixaria em um texto uma declaração que eu tinha acabado de pegar. Um carro me atropelaria fácil ali. Mas eu estava quietinha esperando o sinal fechar.
Um sujeito do meu lado me tirou do transe.
- Me ajuda?
Lá vamos nós... a bizarrice do dia. Fingi que não ouvi, mas, cinco segundos depois...
- Meajudameajudameajuda? Me ajuda a atravessar a rua?
Aí olhei pra ele e percebi que ele tinha os olhos meio vidrados, mas não estava com nenhuma bengala. Ele pareceu adivinhar:
- Tenho 10% de visão... é difícil saber quando tem carro vindo.
E completou, em um tom de cumplicidade:
- E eu não posso morrer agora.
Ah, tá, agora entendi.
- Tudo bem, o senhor não vai morrer, eu vou ajudar.
E o cara:
- Posso ir agora?
- Não, ainda está aberto o sinal.
- Posso ir agora???
Caralhos de óculos! Fecha, sinal.
O sinal finalmente fechou, eu dei a mão pro louco e fui passando com ele. Uma cena dantesca. Eu e o louco, que ainda perguntou:
- Quem é você?
...
Chegando na outra ponta da rua, falei com o cara que nem se fala com criança:
- Ooooolha, eu agora tenho que ir porque estou trabalhando, mas aí você pede ajuda pra outra pessoa, tá???
- Posso pedir?
- Pooode!
Montei no porco e me piquei dali. Rápido.
Como disse
Ana Pôla, eu só resolvi ajudar porque me lembrei de mim mesma: sou meio cega e meio louca. Vai que um dia eu também preciso.