Six - um estudo antropológico
Num ato de total traição à Matriz, fui ontem conhecer a Six, o reduto da galerinha de 20 anos, o lugar onde as coisas acontecem para a garotada. Coloquei meu top rosa infalível, minha sandália que me aumenta 9 cm e fui. Na cara e na coragem.
O episódio com o motorista de táxi já me deu uma palhinha de que a noite seria bizarra. Quando cheguei lá, tinha uma cabeçada inacreditável na porta. Entramos na fila, mas a coisa era tão desordenada que o empurra empurra era algo comparável ao que eu passei no show da Madonna (é, eu sou velha, fui no show da Madonna que aconteceu em 1993, uma vida e meia atrás). O que aquela gente toda estava fazendo lá, Deus pai? Esperei, então, que fosse o melhor programa do mundo, no mínimo.
Finalmente, entramos. O público da casa é bizarro. Eu era vovó, a média de idade era mesmo de 20 anos. Mas o lance não era esse. Era uma gente muito estranha. As mulheres dividiam-se entre as popozudas, com calça da Gang, e as estilo Kelly Key, de boina e sainha. Os homens usavam aquelas correntes, muitas correntes, e alguns estavam fantasiados de rappers. Mesmo, com trancinhas no cabelo e tudo o mais. Me senti no Bronx.
Como o lugar tem três pistas, qualquer lugar onde você pare para dançar, mesmo que seja no meio da pista, é passagem: neguim não se decide e fica andando pra lá e pra cá, o tempo todo tem alguém pedindo licença pra passar - ou te empurrando, mesmo, porque a maioria não tem educação. O passa-passa deve ser por conta de que nenhuma pista nunca estava boa. Deve ter tocado umas cinco músicas que eu conheço durante toda a noite.
Deu três horas da manhã e a gente, de saco cheio, resolveu montar no porco e tomar o rumo de casa. Pagar a conta foi fácil - pouca gente queria ir embora aquela hora. Mas para sair, outra bizarrice. Depois de passar pela roleta, antes de sair da boate, tinha uma FILA. Não é possível! Um segurança ficava barrando a porta. Não entendi nada porque, se aquelas pessoas já tinham mostrado seu cartão pago, por que não podiam sair? Quando finalmente cheguei na porta (que era estreita, um gordo não passaria ali), entendi o porquê da confusão: um segurança só deixava passar de um em um, e ainda dava um tempo entre cada pessoa, porque lá fora tinha uma turba desvairada de pessoas querendo entrar. Uma multidão, às três da manhã, esperando gente sair pra poder entrar. Quis avisar pra elas que lá dentro não estava tão bom assim.
Enfim, o inferno de Cracatoa. Valeu pra eu poder dizer que não vou lá com um argumento concreto.