Perdeu
OK, eu confesso: tenho algum prazer em esculhambar os caras que vêm falar comigo na noite. Como eu sei que isso não está certo, e tal, que afinal os rapazes estão só tentando a sorte, estão praticamente no direito deles, como sei de tudo isso, me esforço pra não ser totalmente antipática e, assim, não ir direto pro mármore do inferno. Quem sabe, eu passe pelo menos um tempinho no purgatório antes do sofrimento eterno.
Só que às vezes os caras pedem pra serem zoados. O sujeito – bizarro, apelidado gentilmente por
Ana Pôla de Mister Bean – passou a noite inteira me olhando, me cercando feito mosca de padaria. Eu percebia tudo com o rabolho e me esforçava pra nem olhar que era pra não dar estímulo.
Quando eu estava indo embora, já tinha pago, estava com o canhoto da cartela na mão me dirigindo para a porta da rua, aquela que é a serventia da casa, vem o cara. Aí eu pergunto-lhes: pra quê-lhes??? Não tá vendo que eu estou tomando o rumo do meu lar? Já perdeu, mané!
Ele fala o óbvio:
- Você vai embora, né?
Santa perspicácia, Pedro Bó! Só porque eu já paguei e estou saindo?
Eu, que nessa hora já tinha me convencido que esse não merecia a minha educação, ainda respondi:
- Vou.
Olhos fitos no horizonte, sem parar de andar. E aí o cara:
- Olha só... – eu andando - ...peraí!!! – eu andando.
Cara, não dá. Não teve coragem pra fazer nada a noite inteira, não merece mais do que isso. Foi muito até. Nem joguei nada morto nele porque eu tinha esquecido em casa.
Pode ser que ele só quisesse saber as horas, coitado. Mas aí ele deveria ter gritado nos meus ouvidos “QUE HORAS SÃO?” bem alto, pra eu deixar de ser metida.
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E agora vão vir aqueles comentários dizendo que eu sou um nojo, anticristo, que vou morrer sozinha e seca porque nenhum homem vai me querer e que isso é bem pior que o mármore em brasa. Azar, antes sozinha que com um perdeu desses. Não é possível que ninguém saiba fazer melhor que isso.