O homem que foi descansar
Sentada confortavelmente em minha cadeira no quatro quartos com vista pro mar onde trabalho, vejo o rapaz que entrega os arranjos de flores dos eventos chegando em minha sala. Ele tinha ido levar uma nota fiscal e como sempre muito bonzinho, muito simpático, muito legal, disse:
- Olha, se precisar de alguma coisa, é só falar com a Filha do Velhinho Legal. O Velhinho Legal não está mais na floricultura.
Antes de eu pensar em perguntar até pra mim mesma o que teria acontecido com o Velhinho Legal, o entregador arrematou, mais rápido que um guepardo 2.0:
- É que o Velhinho Legal foi descansar.
E fez uma cara de condolência. Eu juro que ele fez uma cara de condolência! De cachorro que entrou no velório e espera que caia um pedaço do sanduíche frio no chão.
Eu fiquei passada. Pobre Velhinho Legal. Era Velhinho, mas era Legal, não precisava, assim, morrer. Ele nem me fez nada. Imediatamente também fiz uma cara de coroa de flores e disse:
- Eu não sabia...
E o entregador:
- Nãaao, mas ele não morreu, não! Se aposentou, foi pra Petrópolis descansar.
Ah, meu Santo Estêbão do Quitandinha! Nem por mil rosas de graça um sujeito tem o direito de ser tão sem loção! Se eu fosse uma pessoa sensível, poderia ter ficado triste por dois segundos por causa dele.