Pesadelando
Dia desses eu pesadelei que estava na Praça Saens Peña fazendo alguma coisa e, quando saí do lugar onde eu me encontrava, minha mãe apareceu, como que para me buscar. Estranhei e perguntei:
- Ué, mãe, o que você está fazendo aqui?
E ela disse:
- Fernanda, não olha pros lados, olha só para a frente.
Claro que nessa hora foi como se ela tivesse dito “olhe para os lados” e eu olhei. Havia dezenas de corpos pelo chão, de meninos de rua. Por todos os lados. Alguns estavam vivos, mas sem pernas, sem braços, se arrastando pelo chão e suplicando para quem passava: “me ajuda, me ajuda”. Uma coisa assim meio Kill Bill.
Senti um medo incrível e fui caminhando pra casa. Quando já estava longe da tragédia, entrei em crise de pânico e gritava pela minha mãe quando ela saía do meu campo de visão.
Quando cheguei em casa, tinha um filhote de cachorro abandonado lá e minha mãe concordou em ficarmos com ele, talvez por eu ainda estar traumatizada com a cena que tinha acabado de ver. Só que aí, depois de uns dias, o bicho, já mais crescidinho, ficou doente e tombou sangrando, do nada. Meu sonho era um vermelho só. Pior que o time de vôlei da China.
Acho que sonhei isso porque vi Promessas de um Novo Mundo, um documentário que mostra a visão de crianças árabes e judias sobre os conflitos em Israel. Fiquei impressionada. A gente sabe que as crianças aprendem a ser intolerantes desde cedo, mas é complicado ver a realidade assim tão na nossa cara. Acho que meu inconsciente fez um link com os nossos meninos aqui e criou esta alegoria terrível, mas, infelizmente, nada inverossímil.