Bú
Outro dia, estava voltando pro trabalho depois do almoço, distraída, pensando na quantidade de carne vermelha que eu ainda levaria dias pra digerir, ni qui eu vejo um sujeito sair do nada, como que brotando no chão. O cara deu um pulo, gritou e deu um esbarrão em uma mulher que caminhava na minha frente. A mulher gritou.
Cara, se eu fosse cardíaca, um abraço, tinha cantado pra subir naquela hora mesmo. Ou pra descer. Meu coração apertou, minhas pupilas dilataram, subiu um frio pela espinha. Quase a sensação que eu tive quando sonhei que estava vendo O Grito no cinema e estava com tanto medo que tinha que sair no meio.
Claro que eu pensei no mínimo que seria um assalto e que a próxima vítima seria eu, Maria da Glória. Ou que o cara fosse um doido e fosse agredir a mulher. Ou de repente nem pensei nada, só entrei em pânico imediatamente. Segundos depois, eu compreendi o que se passava: o cara era conhecido da mulher e deu um susto “nela”.
Nela o caralho! Deu um susto em mim, cacete, que não tinha nada a ver com o peixe! Ah, que raiva que me deu. Odeio essas brincadeiras amarelas de sustinho, de jogar pessoa de roupa na piscina, passar pasta de dente na cara quando está dormindo, de chamar por psiu na rua... odeio essas coisas que um dia, na era Cenozóica, já foram engraçadas.
A mulher deu uma bronca no cara. Tinha que levar uma bronca também por cultivar conhecidos retardados mentais. Eu passei jogando 500 mil calangos mortos, mas queria mesmo era ter virado a mão na cara do babaca. Aquela carne toda foi mal digerida por causa dele. E isso eu não posso perdoar.