Identificando-seMinha carteira de identidade virou um trapo. Eu sabia que um dia isso iria acontecer, mas confesso que tomei um susto quando peguei o documento e percebi que ele estava se transformando em pó. Como isso foi acontecer? Em 91 ela parecia em tão bom estado!
Num ato de extrema bravura, aproveitei o restinho das minhas férias e fui TIRAR A SEGUNDA VIA DA MINHA CARTEIRA DE IDENTIDADE. Medo.
O primeiro passo foi tirar fotos 3x4 decentes, em um estúdio, que eu não ia novamente cair na esparrela de tirar a foto que vai me acompanhar pelos próximos 14 anos em um faz-monstro de supermercado.
Aí hoje, de posse das minhas novas e belíssimas fotos, respirei fundo e fui lá no posto conveniado do Detran. Eu sabia que tinha que ir pagar uma taxa no banco, mas fui antes no posto pra saber se eu tinha que pegar algum papel, formulário, sei lá. Chegando lá perguntei a funcionária:
- Oi, é que eu vou tirar a segunda via da carteira de identidade e eu sei que tem uma taxa que tem que pagar e...
A mulher, com cara de nádegas, me interrompe:
- Não é aqui não, é no Itaú.
Com mil caralhos. Depois que esclareci que eu queria apenas que ela me orientasse, se não fosse tomar muito o tempo dela, fui até o banco. Eu, Maria da Glória, uma pessoa da minha categoria, tive que enfrentar uma fila elorme pra pagar uma taxa besta no banco. Sabem há quanto tempo eu não enfrento fila de caixa de agência bancária? Há algumas semanas, porque fui fazendo companhia a Minnie Nome Triplo outro dia. Mas sabem há quanto tempo eu não enfrento fila pra alguma coisa pra mim? Há anos, porque tudo dá pra fazer pela internet, menos essas bostas de taxas que a gente paga pro governo.
Paga a taxa, voltei lá no posto. Já com o saco arrastando pelo chão, encarei de novo a tal funcionária. Dela, passei para uma outra que preencheu um formulário com os meus dados. Na hora do campo “profissão”, ela disparou:
- Estudante, né?
E foi preenchendo com o código de estudante. Eu:
- Não... jornalista.
Tudo bem que eu tenho esta carinha de boneca de porcelana, esses olhos amendoados e sou praticamente uma ninfa bebê, mas a pessoa não atentou para o meu ano de nascimento, que eu já tenho quase 30 anos e que, assim, de leve, poderia já ser alguma coisa nessa vida? Então ela apagou o tal código de estudante com uma borracha que eu invejei muito (apagou a tinta da caneta como se fosse lápis, sem o menor esforço) e colocou lá o código da profissão de jornalista: 171. Ah, agora sim!
Depois de borrocar as minhas frágeis e delicadas mãos com aquela tinta preta nojenta (que eu tenho a impressão de que só sairá totalmente se eu lavar com ácido sulfúrico), saí de lá vitoriosa. Com um lindo protocolo.