A volta da que não foiEu tentei ir ao show do Lenny Kravitz. Juro. Afinal, seria um mega evento, onde o povo estaria. E eu gosto do Lenny. Logo, eu tinha que ir. Era quase uma equação matemática.
No final do dia, a equação não me parecia tão lógica assim. Estava chovendo. Eu estava cansada. Mas, afinal, acabei decidindo ir. Não posso deixar minha porção anciã me dominar e deixar de ir a um show porque trabalhei o dia inteiro e estou cansada. Eu, hein. Parece coisa de arrimo de família.
Tentei carregar Menina do Rouge e mais uma estagiária para a empreitada, mas elas amarelaram. Tolas, pensei eu. Eu era a mais velha de todas e a mais corajosa. Fui para a casa de
Andreh (caminhando alegremente debaixo da chuva) esperar mais uma galera para sairmos todos de lá. Todos com seus bilhetes para não pegar fila (somos mais espertos que a maior parte das abelhas da colméia), nos encaminhamos para o metrô, pimpões. Crentes que éramos lindos, que íamos pegar o metrô e chegar em Copacabana sãos e salvos.
Que grandes pícaros sonhadores. Todo o populacho, a choldra, a patuléia do Rio de Janeiro* resolveu que tinha que ver aquele tal de Leni Cróvis que ia cantar de graça na praia. O metrô não estava lotado, não. Lotado não é a palavra. Aliás, acho que ainda não inventaram a palavra pro que aquilo era. Pega o mais lotado que você já viu em um ônibus/trem/metrô/carrocinha de pipoca e triplica. Pode ser que chegue perto. Ninguém entrava.
Depois de deixar passar uns quatro carros, resolvemos andar umas estações pra trás, em direção à Zona Norte, pra ver se conseguíamos entrar em um metrô em alguma outra estação. Descemos na Cinelândia, quatro estações depois de onde estávamos. Não adiantou. Não havia lugar nem pra uma bactéria nos metrôs indo pra Zona Sul. Um pobre diabo desconectado, voltando do trabalho, me abordou, os olhinhos assustados de ovo frito:
- Você está aqui há muito tempo?
- Mais ou menos...
- O que está acontecendo? É jogo de futebol?
Coitado do sujeito. Tive uma dó imeeensa das pessoas que estavam só voltando para suas casas e nem queriam ver o Cróvis.
Foi me dando um entojamento, de repente juntei o Lé de Lenny com o Kré de Krevitz e saquei que, se a coisa estava daquele jeito na ida, que as pessoas vão em horários diferentes, imagina na volta, com todos voltando ao mesmo tempo? Eu ia ter que voltar pra casa, e ia ter que voltar de metrô... porque de ônibus ia ser ainda pior e de metrô poderia ser impossível. Tec tec tec tec... Bruno e Marrone, meus dois neurônios tão pouco requisitados, acordaram do banco da praça e fizeram uma sinapse. Segundo eles, nem gostavam desse cara que ia tocar.
Catei o resto da minha sanidade mental e peguei o metrô vazio que ia pra minha casinha, tão linda, tão sem tantas pessoas dentro. Amarelei. Eu ia trabalhar no dia seguinte. Sabem como é. Um adulto deve ser responsável. E ouvir os mais novos, de vez em quando.
*Pra você,
Rindu.