Coisas que irritam a FernandaDando continuidade à série “vamos reclamar do sistema”, hoje vou falar sobre outro problema que atormenta a todos nós, pobres seres atuantes no mercado de trabalho. A questão é a seguinte: nenhum anúncio de emprego menciona qual é o salário. Dizem o tamanho da empresa, a qualificação desejada, tempo de experiência etc e tal, mas não contam quanto o infeliz vai ganhar se passar. Aí, o interessado tem que fazer um esforço mediúnico de adivinhação e ler nas entrelinhas a partir do pouco que foi escrito. Com base na conclusão que ele chegar, que será apenas uma suposição, vulgo chute, ele vai mandar ou não o currículo.
O problema é que quem está empregado vai saber como se a proposta é vantajosa pra ele? Só indo lá e passando por inúmeras etapas do processo seletivo. Sim, pícaros, porque não pensem que essa informação é dita na primeira entrevista. Não! O corno tem que passar por entrevistas, dinâmicas de grupo e toda a sorte de humilhações do RH moderno para poder obter esse dado. E ai dele se perguntar! Porque falar de dinheiro é muito feio. É vergonhoso. Um haram muito grande. Quem de nós trabalha por dinheiro? Não! A gente trabalha é pelo reconhecimento, pela satisfação do dever cumprido, pela alegria do serviço prestado, não importando se vai dar pra pagar as contas no fim do mês, manter o filhote na escola, comprar o leite da Sassá. Não interessa se vai ganhar 300 ou cinco mil reais.
E Papai Noel vai chegar em julho, né? Essa informação é crucial, caramba! Dependendo dela, a pessoa sabe se vai querer ou não a vaga. Então pra quê fazê-la perder tempo e fazer a empresa perder tempo também? Por que as coisas não são logo ditas?
O mais absurdo que vi nesse sentido foi um amigo meu, que passou por um processo seletivo há pouco tempo. Ele está empregado mas, como todo mundo, quer melhorar. Então mandou o currículo. Logo na primeira entrevista, pediram a pretensão salarial dele. Ele disse. E o processo foi rolando. Ele foi passando etapa por etapa, e nada de falarem em valores. Ele estava tranqüilo, afinal, se tinham perguntado a pretensão salarial logo no início, não iam manter no processo um candidato que queria ganhar mais que o oferecido sem nem desconfiarem de que se fosse menos ele não ia se interessar, certo? ERRADO. No final da história, ele aprovado em tudo, foi humildemente perguntar quanto era e caiu pra trás quando soube que o salário era não só menos do que ele tinha pedido, quanto menos do que o que ele já ganha! Ora, bolotas! Logicamente ele não largou o emprego. E a mulher RHsística ainda ficou “chateadinha” com ele. Tenha dó, né? Como se a gente tivesse tempo sobrando! Isso é uma das muitas coisas que me irritam nesse mundo véio sem portera de meu Deus.