O baile lá na serraTodo ano eu vou numa festa junina bizarra, porque senão eu não seria eu. Este ano, o evento deste tipo foi em Petrópolis, a uma hora e blau de viagem da minha casa. A bizarrice consistia, primeiramente, no fato da festa ser tão longe, num lugar tão frio e eu ir num ônibus que me traria de volta às 6h da manhã. Ou seja: se a festa estivesse uma merda e eu congelando, perdeu, pray, ia ter que ficar esperando o baile lá na roça ir até o sol raiar. A segunda bizarrice foi que a festa era a caráter, segundo me informou a amiga que me chamou pra ir. Arrumei emprestado um vestido caipira com um avental de milho e fui.
O ponto de encontro para pegar o ônibus era em frente ao Shopping Rio Sul. Chegando lá, fui recepcionada por um bando de pessoas vestidas de preto com o V de Vivo desenhado nas costas. Uma campanha surreal da empresa de telefonia celular: os caras ficavam fazendo com a mão um V deitado para todos que passavam. Só isso. Um traseunte passou por mim e, chateado, comentou: "eu, hein. Coisa mais sem sentido. Ainda se dessem um brinde pra gente". Concordo plenamente. Podiam dar aquele lenço bordado que eu não ganhei no Fashion Rio.
Depois de encontrar por acaso um palhaço que me fez conjugar todo o verbo morrer no imperativo, finalmente minhas amigas chegaram, o ônibus chegou e eu parti pra Petrópolis. Claro que na ida tinha um mala no ônibus. Porque se num ajuntamento de quatro ou mais pessoas sempre está contido um mala, imagina num grupo de 40. O sujeito inconveniente até o último fio de cabelo ensebado encheeeu a cara de cerveja e fez o motorista parar pra ele fazer xixi. Ainda ficou fazendo piadinhas dizendo que fazia mal prender o xixi e blá blá blá Whiscas Sache. Se eu fosse o motorista, teria deixado ele lá, mijando para todo o sempre na serra.
Enfim, chegamos ao nosso destino. Um frio do cão chupando sacolé de manga, fomos nos arrumar. Eu estava ridícula, mas tão ridícula que nenhum de vocês pode imaginar. Quando eu saí do lugar onde tinha me arrumado, me dei conta de que estava morrendo de vergonha de encarar os outros habitantes da festa. O que me consolava é que era uma festa a caráter, logo, todos estariam fantasiados e eu sumiria na multidão.
Péee! Errado, toola! Em toda a festa tinha umas quatro ou cinco pessoas no máximo vestidas a caráter. Todo o resto teve o bom senso de colocar uma calça jeans e um casaco bem quente e fazer no máximo uma maquiagem mais colorida. Me senti a própria Brigdet Jones chegando de fantasia de coelhinho na festa da velharada.
Tinha um conjunto de forró tocando e tinha um cara que queria dançar comigo. Esqueci de avisar pra ele que eu só consigo dançar com o Papai Joselito, que é o único que me entende. Foi um desastre. Quando acabou a música o cara tratou de vazar e desaparecer. Ainda no quesito dança, participei da quadrilha da morte com uma amiga minha. Levamos socos na boca, pisões, puxões de cabelo... mas foi divertido.
Cinco horas e uns quebrados estava eu de volta ao ônibus, sã e salva, depois de ter passado as últimas horas agarrada numa cadeira perto da fogueira. Que dali eu só saía se o Gael me chamasse. No ônibus, claro, também tinha uma mala, uma outra diferente do da ida. Ela gritava o tempo todo e eu já estava ficando agoniada. Ainda mais porque os ratos mortos tinham ficado em casa. Esqueci. De qualquer maneira, ela acabou nos salvando de passar o domingo em Minas. O motorista já ia alegremente em direção a Juiz de Fora quando a mala, que era a única pessoa acordada do ônibus, percebeu e avisou. Depois disso tive muito medo de rolar numa daquelas ribanceiras do caminho e nunca mais ver a Sassá. Mas não.