Mundo quadradoHoje gastei sola da minha linda sandália preta de salto, um mimo do mundo dos calçados, andando em ruas fétidas onde de vez em quando aparecem ratos procurando amostras de molduras para uma galeria de ex-diretores do local onde eu trabalho. Meus pés já acabados, chego na loja que tinha o melhor preço e modelos de moldura que eu queria. Perfeito. O cara já tinha sido contatado, já tinha dado um orçamento, era só fechar o serviço, tão fáaaacil, né?
Não, pícaros sonhadores. Nada é fácil, não contaram para vocês?
A conversação com o português dono da loja começa.
- Oi, Seu Portuga! - eu, felizinha, simpática. Uma fofa - Vamos fechar com o senhor aqueles 19 quadros.
- Dezenove quadros? E agora???
Ahn... como assim "e agora"? Não era pra ele estar feliz com o trabalho?
- É, aqueles dezenove quadros... preciso deles pra daqui a uma semana.
- UMA SEMANA? Não sei! Não sei se vai dar! E se eu pegar, disser que vou entregar e não conseguir entregar? Como fica?
Ai, minha Nossa Senhora da Pinacoteca! Não fica, né? Se não vai poder fazer, me fala que eu procuro outra loja!
Ainda tentando conversar:
- Mas, Sr. Portuga... então o senhor não vai conseguir entregar, é isso?
- Não sei! NÃO SEEEI! Tenho muitos quadros pra fazer! Pensa que os seus são os únicos?
!!!
- Final de ano é uma época horrível, horrível... por que você não deixa isso pra ano que vem?
Claro! Que boa idéia! Como eu não pensei nisso antes? Vou agora mesmo falar com o meu diretor que não vou fazer o que ele me pediu, não, porque o português da loja de molduras acha o fim do ano uma época péssima. Ele vai ficar supersatisfeito comigo.
É muito duro. Eu devo ter feito churrasquinho com o boi da Arca de Noé pra merecer isso.