O POST DO AMIGO OCULTODois tipos de amigoEsse ano, o povo lá do trabalho resolveu fazer dois tipos de amigo oculto: o normal e o bizarro. Pra compensar ano passado, que não teve nenhum amigo oculto. Não teve porque a gente brigava por tudo, desde o valor do presente até o número de opções que cada um tinha que dar. Fazíamos inimigo oculto também. Acho até que algumas pessoas choravam em casa de tristeza e ódio. Eu sempre tirava Pinky. Bons tempos em que meu lado monstruoso podia aflorar de forma institucionalizada.
Mas, enfim, este ano resolvemos ressuscitar o amigo oculto de fim de ano. É claro que teve fórum por e-mail pra decidir tudo, do preço do presente às regras. Principalmente do amigo bizarro. Depois de todos os fóruns, votação e o escambau, um e-mail foi mandado com o que uma meia dúzia decidiu de última hora e a coisa ficou daquele jeito. Até no dia da entrega de presentes uns dois ou três, eu incluída, estavam fazendo as regras sozinhos. Ai, ai, como o mundo é mau, São Nicolau, mesmo na época de Natal. O mundo é mau e ainda rima. Que tristeza.
Apesar de todas as bagunças e de ter me perguntado umas duas ou três vezes quem tinha sido o corno sem a menor mãe que tinha decidido fazer aquela merda de troca de presentes, principalmente quando arrebentei meu pezinho de tanto andar no Rio Sul com Rato Morto, até que foi divertido. O amigo normal não era de opções, ou seja, em tese, as pessoas não podiam pedir seus presentes. Mas aí uns Joselitos começaram a pedir e eu acabei pedindo também. Logo a defensora dos amigos ocultos sem opção. Tão volúvel eu sou. Foda-se, ganhei o Fortaleza Digital, do Dan Brown, no natal, São Nicolau... que piada amarela dos infernos! Eu preciso me conter!
Tralhas toscasO amigo bizarro foi mais engraçado. A idéia era cada um levar de casa uma coisa inútil que estivesse atravancando um armário ou pegando poeira na estante. Algo que a pessoa tivesse ganhado de uma tia velha ou algo do gênero e que nunca tivesse tido coragem de jogar fora, nem de passar adiante. Um objeto tão execrável que era melhor nem colocar a mão, porque senão ela poderia cair, gangrenar, sei lá. Com o amigo oculto bizarro, tcham tchararam, as pessoas teriam a oportunidade perfeita para se livrar dessas coisas.
Eu queria levar alguma parada bem tosca, algum bibelô inútil, mas descobri que todos os cisnes, cristaizinhos fake, porta-retratos de flor que antes habitavam a minha casa ou foram passados adiante no reciclator de presentes Tabajara ou estão enfeiando a casa de praia. Fiquei entre uns sais de banho que ganhei em 2002 e que perderam a validade em 2003, porque eu não tenho banheira, e eu sei lá por que raios ultravioletas nunca joguei fora; um CD do É o Tchan que - eu juro! - veio dentro do meu som quando voltou do conserto, e um perfume do Boticário que eu não gostei e que também perdeu a validade há um tempão. Optei por este último. Meu chefe ganhou e se deu bem. Dizem que perfume velho é um ótimo limpador de telefones. Dizem, dizem. Duro é aturar o futum. G-Zuiz proteja o pobre.
Apareceram coisas sensacionais no amigo bizarro. Um patinho de madeira porta recados com um bico de pregador de roupas horrendo. Uma águia de madeira. Um incenseiro brega, breeeega, de lua e estrela, que tinha até poeira entranhada. Mas a campeã foi uma árvore daquelas de cristais imensa e pavorosa. Um troço grande e estorvento que ocupa espaço muito, muito feio. Ganhou.
Um presente de Natal para o portugaO pior de tudo é que na hora de ir embora (fizemos a troca de presentes em uma churrascaria), neguim achou de deixar a árvore embaixo da mesa, de propósito. Fiquei com dó do pessoal do restaurante, que poderia achar que a gente tinha esquecido, mas, como o povo é pior que eu, deixou lá assim mesmo. Saímos da churrascaria e estávamos conversando na porta, nos despedindo, aquela coisa toda, quando aparece o dono do lugar. Um portuga. Cara, os portugas me perseguem. Nessa hora meu sangue metade lusitano até falou mais alto. Se eu tivesse um coração, juro que teria muita pena daquele sujeito. Ele ficou paradinho com aquela árvore imensa nas mãos, segurando aquele trambolho com o maior cuidado, olhando pra gente com uma cara de cachorro abandonado sem entender quando alguns até riram. Minha chefe, que é uma pessoa boa, foi até lá contornar a situação:
- Olha, a gente deixou aí mesmo de presente pra você porque nós gostamos muito do atendimento.
E o portuga, olhinhos brilhando, quase às lágrimas:
- Sério que eu posso ficar com ela? Sempre quis ter uma árvore dessas! Vou levar pra decorar a adega!
Ô, dóooooo!!!
No fim, todos ficaram felizes. Veja que o lixo de uns pode servir para outros. Me lembrou um episódio de Sex And the City em que uma delas promoveu uma festa para a qual cada mulher tinha que levar um amigo por quem não se interessasse. Vai que interessava para uma outra convidada. Pena que não deu certo porque, quando via o homem sendo interessante pra alguém, a mulherada que o tinha levado se arrependia e caía matando. Coisa de mulher. Aliás, coisa do ser humano. Que só quer os que os outros cobiçam.
Cara, é sério que vocês ainda estão lendo isso? Eu já teria desistido e estaria fazendo algo melhor. Rabanadas, por exemplo.