SacaneiaAinda bem que domingo eu não estava com o mau humor que estou hoje. Se estivese, acho que teria cuspido um ácido na cara de alguém.
Tudo começou quando eu saí de casa, inocente, para uma feijoada com samba. Eu não sou muito fã de feijoada (só a de mamãe) e nem de samba (apesar de me divertir em qualquer buraco), mas fui porque era a despedida de uma estagiária lá do trabalho que está indo passar uns meses na Itália. Insuportável. Ia uma cabeçada, então fui também.
Fui até o metrô, passei meu RioCard (coisa linda de Deus) e esperei o trem chegar. Assim que cheguei na plataforma, já notei que estava mais cheio que o normal para um domingo e aí lembrei que tinha um show de graça na praia do Flamengo. Show do BABADO NOVO. Apesar de não ter cogitado nem por um instante sequer da minha existência colocar meus lindos e delicados pés num evento desses, fui prejudicada pela movimentação que isso gerou. Me senti uma daquelas pessoas que foram pegas de supresa voltando do trabalho no dia do show do Lenny Kravitz. Quando chegou na estação seguinte, entrou uma turba desvairada dentro do vagão. A massa corria e se espremia, ao mesmo tempo que gritava e batia nos vidros. Uma visão do inferno. Aquele de Dante perde. A porta se fechou, o metrô não andava, as pessoas gritavam, cantavam, urravam, grunhiam. Passaram uns seguranças correndo do lado de fora brandindo uns cassetetes.
Meu coração disparou e eu nem tinha visto nenhum gatinho. Era de medo mesmo. Se estourasse a boiada ali, eu não teria pra onde correr, socada dentro do vagão. Na estação seguinte, sem pensar muito, dei um jeito de sair. Nem sabia direito onde estava. Peguei um táxi e praguejei até a quinta geração do idealizador desse show por ter me feito gastar 2,25 do meu RioCard de pobre à toa! Ah, que raiva!
Mas não acabou. Cheguei no local da bendita feijoada, mesmo depois de toda essa via crucis, às 17h. Essa era a hora que a estagiária tinha marcado. Bozo estava lá? Nem ela. E nem nenhuma das pessoas que disseram que iam chegar supercedo, na hora etc e tal. Liguei para TODOS e cada um tinha um motivo pra não estar ali: "fui pegar o fulano, fui pegar a namorada do sicrano, fui encher o meu aquário de água salgada, fazer suco de laranja...". Taqueopariu! Encostei no paredão e esperei.
Durante os 40 minutos que fiquei ali parada até que uma boa alma chegasse, pensei coisas sortidas como "pelo menos o dia está bonito", "pelo menos eu não fui esmagada na vinda pra cá", "a que horas será que eles vão chegar?", "será que o Brasil vai ganhar o hexa?", "eram os deuses astronautas", "cobra tem carrapato?". Quando entrei, ainda consegui discutir com a velha que cuida do banheiro. Maldito país que não cuida dos nossos velhos. Se cuidasse, pelo menos eu não teria que aturar a caduquice de um idoso trabalhando. Velho não tem que trabalhar! Tem que ficar em casa cuidando dos netos e não encher o saco! A velha estava trocando as toalhas de secar a mão e eu não vi. Quando fui pegar o papel, só vi que o porta-papel estava aberto, achei que estivesse quebrado (o lugar do samba não é assim limpinho e bem poderia estar mesmo quebrado) e puxei um. Aí a velha gorda:
- Ah! Você fez tudo o que não podia fazer!
Porque eu desarrumei os papéis dela! Indolente! Com tanta gente sem emprego nesse mundo, a mulher faz cara feia pra cliente que está usando o banheiro!
Joguei uma tonelada de bichos mortos em cima dela e fui embora.
Graças ao bom Deus, apesar de tudo, no fim, conseguiu ser um programa divertido. Sabe-se lá como.