terça-feira, fevereiro 14, 2006
O vendedor de flores novamenteVale a pena ler a coluna do Artur Xexéo publicada na revista de domingo do Globo semana passada. Eu nem gosto muito do Xexéo. Acho que ele, às vezes, pra poder fazer piada implica com tudo e fica over. Mas dessa vez ele se superou. Está de chorar de rir! Só fiquei na bronca porque eu que falei primeiro desse vendedor de flores da música da Ana Carolina. Copião! É grande, mas leiam. Olha a preguicinha! Um vendedor de flores e eu ? por Artur Xexéo (O GLOBO, 12/02/06)
ANDO BRIGADO COM O RÁDIO. E POR uma simples razão: é impossível sintonizar em qualquer estação e não deixar de ouvir Ana Carolina cantando ?É isso aí?. Não tenho nada contra Ana Carolina. Mas, para dizer a verdade, também não tenho nada a favor. De qualquer maneira, assusto-me quando a ouço cantando. Sempre acho que ela está zangada comigo por alguma razão. Se não está, por que grita tanto? De qualquer forma, ela já faz sucesso há tanto tempo que me acostumei. No início, eu também gritava de volta. Atualmente, deixo que ela grite sem esboçar reação alguma. Finjo que tudo está normal. Que é assim mesmo que se canta. Desde então, temos convivido em paz. Ana Carolina grita e eu ouço. Sem represálias. Mas, desde que ?É isso aí? passou a ser tocada em todas as estações, voltei a reagir: desligo o rádio.
Desta vez, não são os gritos de Ana Carolina que me assustam. É a letra de ?É isso aí?. Como todo mundo sabe, a canção é uma versão de um sucesso do grande Damien Rice, ?The blower?s daughter?. Quer dizer, até saber que a Ana Carolina tinha traduzido os versos do grande Damien Rice, confesso que não fazia idéia de quem fosse o grande Damien Rice. Bem, eu também vi ?Closer?. Houve uma época aqui no Rio que quem não tinha visto ?Closer? era discriminado. Cansei da situação e enfrentei o filme. Ou melhor, enfrentei os dez primeiros minutos do filme. Daí para a frente, fiquei completamente desinteressado. Nem percebi que a música que pautava a ação era ?The blower?s daughter?, do grande Damien Rice. Pois, aparentemente, todas as compositoras/cantoras brasileiras se apaixonaram por ?Closer? e, conseqüentemente, pela música do grande Damien Rice. E, a cada dois meses, sai uma versão da canção para o português. Mas a mais bem-sucedida, sem dúvida, foi a de Ana Carolina. A tal que não pára de tocar no rádio. E cuja letra me faz mudar de estação ? antes de desligar, sempre tento encontrar alguma emissora que não esteja tocando ?É isso aí?, mas esta é uma missão impossível.
?É isso aí? tem um dos versos mais incompreensíveis de toda a história da música popular. O refrão já é meio esquisito. ?Eu não sei parar de te olhar?, esbraveja Ana Carolina. Como é que alguém não sabe parar de olhar? É possível não conseguir parar de olhar, ou não poder parar de olhar, mas não saber... Bem, sigo adiante, mesmo com o refrão, e empaco de verdade quando Ana Carolina inclui um vendedor de flores na letra. Não sei se vocês já ouviram ? tá bom, é impossível nunca ter ouvido ?É isso aí?... Então, não sei se vocês se lembram, mas a canção é uma canção de amor que fala de banalidades do tipo ?a vida tão simples é boa? ou ?a vida sempre continua? (nem sempre, Ana Carolina, nem sempre). De repente, não mais que de repente, Ana Carolina ataca os seguintes versos:
?É isso aí
Um vendedor de flores
Ensinar seus filhos
A escolher seus amores?
Em seguida, volta à esquisitice do ?eu não sei parar de te olhar?.
O que é que o vendedor de flores está fazendo nesta música? O que é que o vendedor de flores tem a ver com o resto? Ele é quem ensina os filhos a escolher seus amores? Por quê? Quando? Como?
O ano está só começando, mas Ana Carolina já arrebatou o troféu Zum de Besouro para a letra mais enigmática de 2006.
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