Fila pura e naturalEsses foram os dias do guaraná descontrol. Eu não bebia água pra tomar guaraná Antarctica. Comprava litros e mais litros e distribuía pro povo do trabalho. Cada um que chegava na minha mesa levava um copo na cara e a pergunta: "guaranazinho???". Doida demais.
Tudo isso porque o meu espírito de ser humano que adora um brinde acordou com a promoção do guaraná pra ganhar a camisa imitando a da seleção. Enlouqueci. E, pela fila pra trocar a tal da camisa, eu e todo mundo.
No meio do expediente, às três da tarde, uma fila gigantesca. Alo-ou! Ninguém trabalha não? Tá que eu saí também, mas o posto de troca é do lado do meu trabalho, então dei uma fugida relativamente rápida. Mas esse povo não. Não é possível que todos trabalhem por ali. Tudo um bando de desocupados, isso sim. Cara, e nem é de graça! Tem que juntar cinco tampinhas e ainda dar mais 10 reais. Mas as pessoas acham que, porque é troca, estão ganhando alguma coisa. Loucos dos infernos.
Quando cheguei, entrei na fila imensa. O posto fica no estacionamento de um supermercado. Logo pára uma tiazinha do meu lado e pergunta: "essa fila é pra quê???". Tem noção de que a mulher parou o carro dela do meu lado só pra perguntar isso? Ela nem sabia que fila era aquela, mas era uma fila, então devia ser alguma coisa boa e ela queria saber o que era. Brasileiro ama fila mesmo!
Aquele ajuntamento de pessoas era um mundo paralelo. Acho que entrei em uma outra dimensão. Tinha um sujeito com um saco com umas 40 tampinhas, dizendo que queria "todas as camisas pra completar a coleção". Tinha a gorda dizendo que a camisa feminina era pra criança, muito pequena, não cabia em ninguém. Não cabe nela, né? Toma vergonha e emagrece. Tinha um velho jurando que viu, em um outro supermercado, os atendentes distribuindo camisa de graça porque ninguém queria e eles tinham que desovar: "juro! Eu provo! Eu tenho como provar!" Completamente ensandecido. Faltava só a faca, os olhos vidrados e a risada histérica. E a gorda dizendo, quando acabou a camisa verde que ela queria, que ia "lutar pela verde, que ia a outro lugar até achar". Tinha um menininho ostentando feliz a sua camisa, quase um prêmio, praticamente a taça do hexa, quando alguém na fila pediu pra ver. Ele mostrou, todo orgulhoso, e a pessoa disse: "ah, essa é a feminina". E o garoto com uma cara de desespero, quase largou a camisa no chão. Vai ficar traumatizado para sempre. De repente vão perguntar pra ele: "onde você trocou essa camisa não tinha pra homem?". Assim se criam adultos problemáticos.
Enfim, depois de 40 minutos de tensão, fui uma das últimas a conseguir uma camisa antes que se esgotasse e eu tivesse que voltar pra casa só com o post pra contar.
Agora nunca mais quero beber guaraná na vida. Sou capaz de abater a tiros o corno que me oferecer guaraná.