A Bahia religiosaUma vez na Bahia, além de comer acarajé e passar mal, você também conhece algumas igrejas. A mais famosa, todos sabem, é a igreja do Senhor do Bonfim (ou Igreja do Bonfim, sei lá). O Senhor do Bonfim é porreta mesmo. Fiz um pedido e ele está se esforçando pra atender. E rápido. Olha, recomendo. O melhor é que ele não guarda rancor: eu bem já cortei uma fitinha que amarrei no meu braço uma vez porque não agüentava mais aquele fiapo rosa desbotado nojento e fedegoso no pulso. Na verdade, na viagem a Bahia cortei outra vez uma nova pulseira, que um vendedor amarrou em mim praticamente à força. Eu ia pra night e aquela coisa pink não combinava com meu anel de cobra e meus brincos de Leona.
Lá na igreja do Senhor do Bonfim tem uma sala bizarra chamada Sala dos Ex-Votos. É uma salinha na qual as pessoas que conseguem graças colocam coisas relativas ao que pediram, como se fossem prova das graças alcançadas. Tem uns moldes de pernas, braços, cabeça, tudo quanto é parte do corpo, pendurados no teto. Tem umas fotos de feridas, de gente doente, de gente viva, de gente morta. Tem tudo que é coisa. Tem até diploma de formatura emoldurado. Quando eu achar o caminho pro Vale, faço um mapa e grudo lá na parede.
A night na BahiaCerveja, cerveja, cerveja. O povo adora um boteco e uma cachaça. Graças a Deus! Na minha última noite lá, fomos pra night pesada no Café Cancun, um bar/boate mexicano, feito o Guapo Loco aqui do Rio, que tinha um preço amigável, mas não vendia cerveja Sol. Bar mexicano que não vende cerveja Sol. Entenderam? Nem eu. Frustrada, peguei então o cardápio e pedi um tal de Frozen Rubi. Estava lá escrito, ó, então deviam vender.
Péeee. Resposta errada.
- Não estamos fazendo nada frozen.
Cacetes polares! Olhando novamente o cardápio, disse, jogando milhões de calangos mortos no barman:
- Terceira tentativa, tá? Mojito, vocês têm?
Insuportável. Se veio cuspido, de qualquer maneira, o drink estava uma delícia.
Voltando da BahiaUma das minhas malas é da CVC. Achei que o único inconveniente dela fosse me identificar com a pobrada que viaja de excursão pela CVC, mas não. Na hora de retirar a bagagem, vejo a bolsa da CVC, linda, azulzinha, com todas as minhas bugigangas dentro (praticamente a minha vida toda ali), vindo na esteira. Junto dela, mais três. Iguaizinhas. Na mesma hora, meu pobre coraçãozinho gelou. Eu sou uma pessoa atenta, mas eu sou, assim como a última pessoa lúcida do mundo, a última pessoa atenta do mundo. O resto é tudo um bando de distraído dos infernos. Tive certeza de que algum corno sem a melor loção ia pegar a minha bolsa achando que era a dele sem nem reparar que vinham mais três iguais atrás e ia embora com as minhas coisas. Como eu sei que nem sempre conferem a etiquetinha das malas (na ida mesmo não conferiram as minhas), já imaginei a confusão se formando. Isso não podia acontecer! Quando, naturalmente, alguém puxou a bolsa e já ia embora, eu gritei, lá da frente da esteira:
- CONFEREONOMEPELOAMORDEDEUS!
Ante ao meu discreto chamado, a pessoa conferiu. Não era mesmo a bolsa dela e colocou de volta na esteira. Por que eu tenho sempre que conviver com pessoas enroladas à minha volta? Destino que Allah pendurou no meu pescoço.