SorteDemorei mais de uma semana pra escrever essa história e só estou escrevendo porque algumas pessoas me pediram. Como eu não consigo resistir a nenhum pedido, aí vai. Só não sei se dá pra falar sobre isso com humor.
Sábado passado, fui eu toda pimpona à praia. Cheguei lá e estava uma muvucada. Aquela coisa de praia no Rio final de semana: muito, muito, muito cheio. Ainda por cima, as meninas ainda pararam um vendedor de canga, o que contribuiu pra ter zero espaço pra mim. Encostei a minha bolsa embaixo da barraca e fui providenciar uma cadeira de praia. Acomodei a cadeira onde tinha espaço, sentei e pensei: “agora é hora de pegar a minha bolsa e trazer mais pra perto de mim”. Ni qui pensei isso, Cacau Acelera me pergunta, com os olhões arregalados de ovos fritos:
- Fê, cadê a sua bolsa?
Respondi plácida e serena feito água de poço:
- Está ali, ó.
E apontei para um espaço vazio. A bolsa não estava mais. Nisso chega uma mulher que aluga cadeiras e diz:
- Era de vocês a bolsa que roubaram? Porque eu vi o cara, ele correu e caiu isso aqui.
A minha chave de casa na mão da mulher. Só nessa hora é que eu acreditei que era verdade: tinham levado a minha bolsa. Entrei em pânico. Tinha identidade, cartão de banco, cartão do tíquete-restaurante, cartão do plano de saúde, dinheiro, celular... Mais desesperada eu fiquei porque um mês atrás me roubaram num bloco de carnaval e levaram exatamente essas coisas. Eu estava vendo o mesmo filme de novo, muito cedo. E não era legal.
Nessa hora, chegou o barraqueiro que trabalhava com a tal mulher que trouxe a minha chave e disse:
- O que aconteceu? Roubaram você? Como ele era? Vou atrás!
A mulher deu a descrição do sujeito, que só ela tinha visto, e o outro saiu correndo. E eu saí correndo atrás. Era ridículo, já que, àquela altura, o meliante já estava longe pelas ruas de Ipanema tomando um sorvetinho com o meu dinheiro. Mas na hora era a única coisa que eu podia fazer. No meio do caminho, cansei de correr e fiquei esperando embaixo de uma barraca, enquanto o cara dizia:
- Fica aí, eu vou continuar procurando. É difícil, mas eu vou tentar.
Óbvio que era difícil. Impossível, na verdade. Fiquei pensando no que fazer, peguei um celular emprestado pra tentar falar pro cara pra deixar pelo menos o que não valesse dinheiro em algum lugar, mas ele já tinha desligado meu telefone. Perdeu, prayboy.
Aí é que aconteceu o mais incrível e o que fez essa história valer a pena de ser contada. Porque bolsas são roubadas nas praias do Rio de Janeiro todos os dias. Mas, no meu caso, o cara que saiu perseguindo o ladrão voltou e disse:
- Vem, pegaram o cara! Sua bolsa está lá em cima, com os PMs. Eles querem saber se não está faltando nada.
E na calçada estavam três policiais e o ladrão sentado no chão com as mãos pra trás. Um dos PMs me entregou a bolsa e o meu celular, que estava no bolso do cara. Não faltava nada, nem um real. O sujeito não teve tempo pra ver o que tinha dentro. Tudo isso, desde o furto, até a captura do cara, levou assim uns cinco minutos. O barraqueiro viu os policiais na calçada e avisou a eles. Os caras se espalharam e pegaram o sujeito. A polícia trabalhou. Funcionou. Não estava ali fazendo só figuração.
Tive que ir pra delegacia, registrar queixa e tal. Olhava pra minha bolsa e não acreditava. No fim das contas, tive mais sorte que azar. Primeiro eu me senti uma idiota por ter deixado a minha bolsa longe de mim. Nem era muito longe, na verdade, mas não estava amarrada na cadeira e na minha cara, como tem que ser. Claro que isso é uma inversão de valores, porque, teoricamente, eu deveria poder deixar as minhas coisas onde fosse, porque ninguém tem o direito de roubar. Depois que contei essa história pras pessoas, várias me disseram que não tomam muito cuidado com bolsa em praia, que acabam relaxando. Pois é, a gente pensa que é histeria coletiva, até que acontece. É lamentável, mas não dá pra dar mole nem dois minutos. Fico com pena desses turistas que vêm pra cá e ficam indefesos, sujeitos a isso e a coisas piores.
Outra coisa incrível dessa história, além da atuação da polícia, foi o barraqueiro ter saído à caça do ladrão. Ele não tinha por que me ajudar. Nem alugando cadeira com ele eu estava. Solidariedade de gente que nem me conhece, assim de graça, me comove.
Ah, sim. Depois de passar duas horas na delegacia registrando a ocorrência, voltei pra praia. Pra dar um mergulhinho e tomar um solzinho. Que eu não ia deixar vagabundo mão grande estragar meu dia de sol.