O mistério do acidentadoTinha eu voltado da praia e tomava banho quando toca meu telefone. Gritei pra Gêmea da Night, que estava aqui, para atender pra mim. Quando saio do banho ela está com uma cara meio estranha.
- Que foi, Gêmea? Quem era no telefone?
- Era um cara dizendo que era o amigo do Fulano, que você conhece de onde seus pais têm a casa de praia. Ele disse que o Fulano sofreu um acidente grave e que ele está ligando pros amigos, a pedido da mãe, pra avisar as pessoas. Deixou esse telefone aqui pra você retornar.
Diliça. Óia que ótima notícia pro meu domingo. Peguei imediatamente o telefone pra ligar, até porque eu conheço o Fulano e o amigo dele que ligou, mas não tenho os telefones de nenhum dos dois em casa, só no trabalho. Ligo pro tal número e dá ocupado. Ligo de novo e dá ocupado e de novo e dá ocupado. Mais legal ainda. Resolvi que ia esperar até o dia seguinte e ligar pros telefones que tenho no trabalho. Afinal, a merda já tinha acontecido mesmo, agora não ia fazer muita diferença.
O problema é que, quando eu fui dormir, coloquei a minha linda e loira cabecinha no travesseiro e zap! Os olhos não fechavam. Pois é. Bateu um pânico de que Fulano tivesse morrido naquele meio tempo e eu nem ligado. Quando consegui dormir, sonhei com a história. Uma merda com M de monstruosa. O monstro, no caso, sendo eu mess. Meu amigo morrendo e eu nem tchum.
No dia seguinte, cheguei no trabalho e, após constatar que eu não tinha o telefone de Fulano, liguei pro amigo, que é melhor amigo dele. Quando ele atendeu, já achei que tinha alguma coisa errada, ou que não tinha nada errado, porque a voz dele estava boa demais. Ele disse que não sabia de acidente nenhum, e achava difícil ser verdade, porque ele seria uma das primeiras pessoas que a família avisaria. Mas que ia ligar pro Fulano por via das dúvidas e me retornava. Dali a pouco, tocou o telefone e era ele dizendo que, realmente, Fulano estava bem. Ou seja, fui vítima de um trote de alguém que, naturalmente, vai pro inferno. E naquela ala pior, onde toca Noite do Prazer em looping por toda a eternidade.
Agora, quem é esse corno sem a menor mãe que ousou me roubar uma noite tranqüila de sono? Em princípio, pensei que fosse uma daquelas ligações que estão na moda, nas quais dizem que uma pessoa da sua família sofreu um acidente ou que está seqüestrada. Mas não pode ser, porque nesses casos o bandido não tem o nome da pessoa, fala sempre que é o seu “filho” ou um “parente seu”. Comigo, deram nome, sobrenome, nome do meu amigo e ainda citaram de onde eu os conheço. Só pode ser alguém que conhece todo mundo.
Isso é coisa vocês sabem de quem? De mulher ciumenta. Tenho certeza. A garota viu o meu número na agendinha do celular do namorado dela e armou com algum amigo pra me passar um trote, pra ver se eu retornava, pra ouvir a minha voz, sei lá o que passa na cabeça oxigenada de mulher maluca. Agora vocês vejam. Eu aqui, quieta na minha casa, vivendo essa minha vida sem pecado, de menina educada pelas freiras cegas e mancas, parentes do Joseph Klimber, que criam cabritos na Dinamarca, e vem uma pessoa desse naipe me perturbar. A mim, Maria da Glória, católica apostólica romana. Não mereço isso não, sabe.
Pior é que nesse dia vi as horas repetidas em vários momentos. Segundo Suely do Caminhão, minha amiga taróloga, astróloga, numeróloga e comunicóloga, quando a gente vê hora com números repetidos (tipo 19 e 19, 22 e 22 etc), tem alguém pensando na gente.
É a vaca bolando o próximo passo da vingança. Tomara que não seja tacar ácido na minha cara. Eu sou tão bonitinha.