VergonhinhaÉramos três mulheres e um homem na mesa do almoço. O papo era "coisas que temos vergonha de comprar na farmácia". As meninas cedo cedo já têm que passar por isso, quando são obrigadas a comprar absorventes. Qual de nós não ficou sem graça na fila pra pagar e não olhou com olhos suplicantes pra moça do caixa que, compreensiva, fez um pacote embrulhado em três ou quatro voltas de papel, pra carregarmos dentro de um saco plástico (de preferência escuro), pra que ninguém, nem o super-homem com visão de raio X, visse que era aquela coisa desabonadora que carregávamos?
Aí quando superamos essa, vem a fase de comprar OB's, seguida pela fase de comprar pílula ou camisinhas. Quando eu comecei a tomar, andava até uma farmácia específica que tinha uma atendente mulher. Eu ia lá só por causa disso. Confesso que até hoje lanço um olhar meio ratomórtico pro balconista quando peço as famigeradas bolinhas. Do tipo: "é isso mesmo que eu quero, você não tem nada a ver comigo, o pobrema é meu, a vida é minha, dá aqui essa espiga de trigo".
Eu e as meninas contávamos alegremente histórias desse tipo. O único rapaz presente na mesa ouvia, quieto, até que resolveu se abrir (ui):
- Gente... vocês têm vergonha dessas coisas porque não têm que comprar KY.
Silêncio. Momentos de reflexão. Eu digo:
- É. Eu nunca tinha pensado nisso. Deve ser bizarro.
E ele conta:
- Outro dia, fui na farmácia e não estava encontrando em lugar nenhum. Aí, fui todo humilde, todo discreto e perguntei pro caixa, baixinho, onde estava. Nisso uma atendente lá na putaqueopariu gritou: "KY??? É ALI, Ó, NAQUELE BALCÃO!" e apontou o lugar. Parecia cena de filme de comédia. Fui andando até lá, humilhado, pra pegar o produto.
É, galera. Tá vendo? Vergonha é roubar e não conseguir carregar. É levar um monte de talher de um jantar chique e eles caírem da roupa bem na frente do segurança. Comprar absorvente, camisinha e pílula é fichinha. Pensem no KY do meu amigo feliz.