Sassá e euMinnie Nome Triplo teve a brilhante idéia de me dar de presente de aniversário o livro Marley & eu. E eu tive a sensacional idéia de acabar de lê-lo no metrô. O erro. O livro é a história de um casal que compra um labrador. O bicho vai crescendo, vai fazendo parte daquela família, até que o tempo passa, ele fica velho e... e aí é o fim do livro e eu chorava vergonhosamente, em público. Coloquei os óculos de sol e fungava que nem uma mulherzinha. Malditos livros chorosos dos infernos. E as pessoas todas me olhando. Ah, qual é. Ninguém aí tem um cachorro?
Pois é, eu tenho uma. Sassá, minha cã preciosa, tem 16 anos. Dezesseis anos, de verdade, não é anos-de-cachorro-convertidos-em-idade-de-gente. Se fosse um ser humano, o que quase é, minha bebê estaria o que, com uns 80 anos. Sempre me surpreendo com a disposição dela. Claro que hoje ela dorme mais do que dormia há alguns anos. Apareceram alguns pêlos brancos, mas, no geral, ela continua cor de canela. Já não enxerga tão bem, mas não está cega. Não escuta mais imediatamente quando entramos em casa, mas também não está totalmente surda. De resto, normal. Ainda chora assim que Papai Joselito acaba de comer, porque é a hora da banana dela. Sim, ela ama banana. E presunto. E cenoura, batata e jiló cru. Come de tudo, parece um porquinho, minha Sassá. Mas é uma cadela. Que, paradoxalmente, só come ração. É, porque essas coisinhas que ela ama são só lanchinhos. A refeição principal é ração. Resumindo, ela gosta de qualquer comida. Não sei a quem ela puxou.
Ah, sim. Há uns meses, ela teve umas ziquiziras. Desmaiou umas duas vezes, ficou lá, prostrada no chão. Até que acordou e voltou a viver sua vidinha, como se nada tivesse acontecido. Vida que segue, sabe? Sem maiores complicações. Sei que um dia ela vai de vez. Espero que seja rápido, mas será do jeito que Deus quiser. Penso que estou preparada, mas tenho certeza de que ela vai fazer muita, muita falta. Que a casa vai ficar vazia, irremediavelmente vazia.
Outro dia, Mamãe Jo-se-li-ta me ligou pra contar que tinha levado ela pra uma bênção dos animais que tem na praça, por ocasião do dia de São Francisco de Assis. Assim ela disse:
- Fernanda, hoje eu fui levar a Sassá pra receber a última bênção dos animais da vida dela.
Meu coração gelou. Última bênção? Por quê? Ela morreu e essa foi a forma que Mamãe encontrou pra me contar? A Sassá subiu no telhado?
- Mãe... o que aconteceu com a Samantha?
- Não, nada... é que ela já tem 16 anos, provavelmente não agüenta até ano que vem.
Sem loção. Se o meu coração fosse fraquinho igual o da Sassá, eu podia ter empacotado. Isso não se faz.