O POST DE BUENOS AIRES - FINALNaquela noite, em que eu e Medulinha embarcaríamos de volta ao Rio, saímos pra jantar. Eu estava totalmente elétrica, acho que já antevendo que, uma vez que teria que passar a noite toda acordada, já que o vôo de pobre partia às 5 da manhã e eu tinha que estar no aeroporto às três, sair de casa 2h30, essas coisas de gente de vida ruim, então, diante disso, acho que resolvi ficar elétrica pro sono não chegar nunca. Ou só chegar a muitos pés de altura.
Antes do jantar, arrumamos nossas malas. Elas, sim, coitadinhas, não escaparam da trombose que Medulinha previu: estavam todas inchadas. Como a gente consegue colocar tanta roupa numa mala e na volta precisa de duas ou três malas extras pra fazer tudo caber? Mistério. Que nada tem a ver com a Puma, a Nike ou a feirinha da Recoleta.
Pare de sufrirNo jantar, expus minuciosamente meus planos de me casar com o próximo presidente da Argentina (é, galera, o próximo, o que virá depois da mulher que lá está hoje, pró-xi-mo, que parte do próximo não deu pra entender?). Eu falava animadamente, arriscando um portunhol de vez em quando, pra abrilhantar a conversa, enquanto El Diablo me observava e ria muito mais do que o normal... porque eu estava um capeta ... até que, de repente, ele anunciou:
- Já sei que emprego vou arrumar pra você.
- Qual???
- De pastora.
- Anh? Pastora?
- É, pastora. Agora está na moda umas pastoras ficarem falando pros imigrantes na televisão. Elas falam umas coisas misturando português e espanhol, um monte de bobagens. Mais ou menos como você está falando hoje.
Pastora? Aparecer na televisão? Mas esse será o degrau que me levará à Quinta do Presidente! Vou ficar famosa, o próximo presidente vai me ver, se apaixonar por mim e, pimba, eu na Quinta. Nunca pensei que El Diablo pudesse ser tão visionário, gente! Fiquei muito empolgada:
- El Diablo, eu adorei isso de ser pastora, aparecer na televisão falando bobagens... é a minha cara!
- É... cara de pau.
Não sei de onde ele tirou isso.
Voltando pra casaInsone, após vasculhar o Free Shop de Buenos Aires, resolvi comprar uma singela garrafa d’água. Eu sempre compro garrafas d’água pra tomar apenas um gole, guardar o resto na bolsa “pra depois” e jogar fora tudo quando chegar em casa. É um TOC de velha que eu tenho desde sempre. Taquei a garrafinha dentro da bolsa e viajei com ela. Medulinha, no meio da viagem, acordou de repente, me olhou com olhos de ovos fritos e disse:
- Você trouxe aquela garrafa d’água???
Aí eu me toquei que até pra embarcar com remédio de nariz na bagagem de mão tem que declarar, porque qualquer líquido pode ser explosivo. Que linda a minha garrafinha binladen. Se tivesse explosivo lá dentro, eu explodia uns 20 aviões. E ninguém viu. Deve ser essa cara de boneca angelical de porcelana que eu tenho.
ChegueiDe volta ao Rio de Janeiro, após o pequeno milagre de ver todas as minhas malas trombóticas escaparem com vida daquela esteira fria, e depois de sair de lá com elas sem ninguém conferir canhoto nenhum (ou seja, milagre duplo, se alguém pega mala errada ali é tchau pra sempre), encontrei Papai Joselito que iria me trazer sã e salva pra casa. Levei quase tanto tempo dentro do carro do aeroporto pra casa que dentro do avião (trânsito do fechamento do Túnel Rebouças), mas tava valendo. Era hora de jogar todos os meus presentes de mim para mim mesma com muito amor em cima da cama e nadar neles, que nem a Demi Moore nadou em dinheiro naquele filme cretino.