O POST DE BUENOS AIRES - PARTE 5No último dia em Buenos Aires, fomos visitar o Caminito, localidade em La Boca. É um bairro pobre, mas muito bonitinho, com várias casinhas coloridas. Lá é a terra do tango. Perto fica o estádio do Boca Juniors, que visitamos em um ato de traição total ao futebol brasileiro (ah, vai, mas o estádio é uma graça, e turista pode tudo).
Lesações no outletDepois disso fomos, adivinhem, no outlet da Nike, comprar só um pouquinho mais, porque ainda não estava bom. Chegando lá, fomos atendidas pelo vendedor lesadinho. O vendedor lesadinho não conseguia se comunicar com a gente, coitado. E olha que era o último dia, ou seja, vocês podem imaginar que eu já era a rainha do portunhol, entendia todas as cantadas e todos me entendiam. OK, falava um monte de bobagens, mas me comunicava. Pero que uga, pero que buga. Mas com o vendedor lesadinho, não. Pedi um tênis e fora horas gastas pra ele entender o que eu queria. Mas tudo bem, finalmente trouxe, eu experimentei, gostei, e disse:
- Esse aqui eu vou levar.
Ele sorriu seu sorriso bobo e pegou o meu tênis. Pra guardar, né, enquanto eu via o resto da loja. Então experimentei outras coisas, me decidi por mais uma camisa e uns 15 minutos depois, quando já tinha escaneado todo o estoque do cara, disse a ele:
- Agora pode me dar o meu tênis que eu vou levá-lo junto com a camisa.
Ao que ele me olha com os seus olhinhos vidrados e diz:
- Ah! Você vai querer o tênis?
Não, Pedro Bó. Vou querer um bife de chorizo. Aqui não é restaurante? Óbvio que eu vou querer o tênis. Tive novamente que explicar qual era o meu tamanho. Quando eu disse que queria o 37, ele disse:
- Não existe 37. A numeração só vai até 36.
Oi? Quem estou? Onde sou? É bonita a chuteira da seleção brasileira? Amigo! Mas se eu tinha experimentado o 37 quinze minutos antes, como não existia? Eu ficava olhando pro sujeito repetindo:
- Eu vi o 37, como não tem 37? - babando, espumando de raiva. Seria muito ódio no meu coração, se eu tivesse um. Eu já estava extremamente tensa com medo de terem levado o único 37 que tinha e aquele retardado mental estar jogando aquele caô ridículo de que não tinha a numeração, quando ele me aparece com o tênis. O sujeito quer me enlouquecer, né? Ele quer. O lesação já ia levando a caixa pro balcão quando eu peguei da mão dele e disse:
- Pode deixar que eu levo - e arranquei a caixa das mãos dele.
Meu tênis precioso ele não ia tomar de mim nunca mais.
Sem noção. E ainda teve a desgraça de ser argentino e não nascer bonito.
Onde vou morar?
Nesse dia, fomos passear em volta da Quinta do Presidente. É uma propriedade que era pra ser a casa de praia do presidente, sabem como é? Mas ele mora lá, que é mais legal que na Casa Rosada. Pertinho da casa da minha prima. O que era pra ser uma voltinha virou quase uma maratona: é muito grande, rapá. As pessoas andam e correm em volta da quinta feito o pessoal da Zona Norte caminha em volta do Maracanã. Ou o da Zona Sul em volta da Lagoa.
No dia anterior, passeamos pelo bairro com El Diablo (o marido da minha prima, pra quem ainda não sabe) e ele me mostrava as casas que estavam para alugar. Uma delas era uma propriedade absurdamente grande, de 700m2 de área construída, mais mil e cacetada metros quadrados de terreno, um exagero. Aí El Diablo se animou todo. Disse que devia custar uns 15 mil dólares o aluguel e eu pensei: “Quinze mil dólares? Claro que não. Não existe aluguel caro assim.”
Não? Toola. Chegamos em casa e acessamos a página da imobiliária pra ver o preço do aluguel. Custava só 12 mil dólares. Sim. O aluguel. Por mês. El Diablo errou por três mil dólares. Ele começou a dizer que era pra eu escrever pra minha mãe dizendo que eu não ia voltar, que ele ia me arrumar um emprego na Argentina e que eu já tinha até onde morar: aquela casa. Que era pra eu mandar a foto pra ela por e-mail. Que capeta, gente.
Mas quando eu vi a Quinta do Presidente, no dia seguinte, não tive dúvida: morar na casa de 12 mil dólares por mês é pensar pequeno por demais. Quero mesmo é morar na Quinta do Presidente. Só o que eu preciso é dar um jeito de conhecer e namorar o próximo presidente da Argentina. Tenho que começar a trabalhar para isso imediatamente. O mercado brasileiro anda ruim mesmo e a propriedade muito me agradou.
(CONTINUA...)