No salão com PentelPentel quase nunca faz as unhas. Ela reclama que as dela estragam logo, no dia seguinte, ou às vezes no mesmo dia, e não vê sentido em ficar lá meia hora sentada pra perder tudo tão rapidamente. Por isso, ela só vai ao salão pintar as patas em ocasiões especiais. Entra em qualquer salão, não marca nada, vê quem está disponível e resolve a questão. Adoro esse lado prático-praticamente-um-machinho que Pentel tem.
Outro dia, entrou ela em um salão de shopping que cobra muitos dinheiros por esse serviço. Quando eu me escandalizei com o valor, ela declarou:
- Eu teria pago o dobro se a manicure tivesse ficado quietinha.
Senti que a experiência tinha sido traumática. Bom, eu nem sempre gosto de conversar, mas confesso que às vezes prefiro interagir, porque aquele tempo sentada me dá um tédio absurdo. Claro que se tiver uma televisão eu sempre prefiro. Mas, na falta disso, melhor conversar. Eu acho. Só que o problema era que a manicure não falava com Pentel. As manicures conversavam entre elas, enquanto as clientes ficavam largadas no vento com as suas mãos à mercê das faladeiras.
Aquele papo agradável de salão.
- Gente, vocês sabem como está fulana? Ela anda sumida... soube que ela estava mal de saúde. Será que piorou?
Ao que uma outra retruca:
- Não sei... mas também, nunca mais eu pergunto da vida de ninguém nesse salão. A pessoa pode desaparecer, eu posso achar que a pessoa morreu, que eu não pergunto. A última vez que eu perguntei de alguém aqui levei uma patada que nunca mais vou esquecer.
- Que isso, Fulana – diz a primeira – Quem fez isso com você?
- Foi você.
Pausa constrangida.
- AHHH, eu fiz isso??? Olha, se eu fiz foi sem querer, eu estava passando por um momento péssimo na minha vida, meu marido estava em depressão...
- Não interessa. Eu não trago os meus problemas de casa pro trabalho. Você não precisava ser GROSSA.
Enquanto isso, as clientes lá, constrangidas, no meio da guerra das manicures. Pentel disse que trocava olhares solidários com a outra cliente e ia cada vez mais querendo se transformar em acetona, entrar em um frasquinho branco e desaparecer.
Quando a manicure chateada pela grosseria da outra saiu de perto, a que estava fazendo a mão de Pentel começou a se justificar com ela:
- Poxa, naquela época eu estava muito mal... imagina que o meu cunhado matou a mulher e as filhas... e depois se matou... e meu marido ficou um ano na cama com depressão...
Minha Nossa Senhora das Unhas Vermelhas! Que zuuuper alto-astral ouvir uma história assim tão animada numa manhã de sábado, se preparado pra ficar bonita pro evento que ela ia. Ainda por cima, assim que ela chegou, quando disse pra manicure que queria cortar a unha a moça disse:
- NAAÃO! Tanta gente querendo ter unha comprida e você querendo cortar?
Acho que se fosse eu sairia correndo e gritando pela rua depois de uma experiência dessas. Com as unhas feitas. E grandes, muito grandes, estilo Zé do Caixão.