Neuras
Noiva do Ano contava lá na sala que uma conhecida dela não ia em um aniversário que tinha naquele dia porque estava se sentindo gorda e achava que não tinha roupa. Essa menina é responsável por várias histórias sem loção que ouvimos lá na sala. Geralmente quando Noiva conta algo dela fazemos coro dizendo que ela é bizarra, mas dessa vez eu fiquei em silêncio. E depois falei que isso me parece perfeitamente normal.
Pois é. Eu já quase desmarquei chopp com dois amigos porque, no meio do dia, do nada, me olhei no espelho e me achei gorda. Minha amiga teve que cortar um dobrado pra me convencer a não ir correndo pra casa devorar três barras de chocolate pra me sentir melhor (e engordar um pouco mais). Então o surto lá da sem noção não me parece tão estranho. Aliás, todo dia meio que passo por isso: olho pro meu armário lotado de roupas que não gosto, aí visto uma blusa e acho que apareceu uma banha na barriga, ou uma banha no braço, uma banha na cara, no cérebro, sei lá onde. Imediatamente me sinto um hipopótamo. Por isso queria trabalhar de uniforme. E uniforme preto, parceiro, que emagrece.
No meio do desabafo, percebo que a estagiária me olhava de um jeito meio esquisito, assim como a gente olha pra algum louquento perigoso. Com muito cuidado, ela perguntou:
- Mas você sabe que não é gorda... né?
Não sei. Posso não ser, mas a gordura é um estado de espírito. Eu cresci vendo Mamãe Joselita fazer dieta e contar uma história de que tiveram que quebrar a parede pra passar o caixão de uma tia que tinha morrido, de tão gorda que a véia era. Se essa história não assusta uma criança, eu não sei o que mais assusta (bom, tem a história do Onofre que também traumatiza). Era pra eu ter ficado anoréxica. Mas, como eu adoro comer, isso é tecnicamente impossível. Maldição.