O elevador lá do trabalho (ou "Mais uma da série: coisas que irritam a Fernanda”)O elevador lá do trabalho é uma coisa que me irrita. Na verdade, não é só uma irritação. É uma verdadeira agonia. É tortura chinesa todas as manhãs. É a exposição nua e crua de toda a sem loçãozice do ser humano.
São dois elevadores. Sempre tem uma fila gigantesca. Sempre. Aquela maldita fila. E não importa se um elevador está no 11º andar, ou seja, no último, já descendo, e o outro elevador está no terceiro, subindo. Sabe-se lá Deus como, eles chegam juntos ao térreo. E aí as pessoas ficam indecisas sobre qual elevador pegar, ou pegam todas um só, e o outro SOBE VAZIO, porque ninguém segurou a porta. Perdeu, prayboy que estava atrás na fila. Outro só daqui a 23 minutos.
Ou então tem uma cadeira de rodas pra subir, na frente da fila (estamos falando de um hospital). Aí nenhum corno que está perto faz o favor de segurar a porta pra pessoa que está tentando empurrar a cadeira pra dentro. Porque se ajudar, né, de repente cai a mão. Só pode ser por isso que ninguém ajuda. E aí o elevador SOBE VAZIO. Que nervoso, mãe! Quando eu estou atrás na fila, não posso fazer nada. Quer dizer, não posso uma pinóia, porque às vezes saio correndo lá de trás igual a uma capeta insandecida pra segurar a porta que os seres lesados da frente não estão percebendo que têm que segurar, senão o elevador vai embora. É um estresse diário. Eu não sei se as pessoas sofrem de um tipo de distração patológica degenerativa privadora dos sentidos ou se só têm má vontade mesmo.
Não sei. Agora, no caso de gente que entra no elevador e fica na frente porque vai descer “logo ali” (no quinto andar) é má vontade mesmo. Fica aquele buraco vazio atrás do elevador, e aí onde a capacidade é 11, entram só sete. E por que as pessoas fazem isso? Porque quando nós, os poucos conscientes, que vamos para trás do elevador, queremos descer no nosso andar, ninguém sai da frente pra gente saltar! Eu tenho que ficar lá atrás berrando DÁ LICENÇA com toda minha potência vocal, assustando todo mundo, pra que as pessoas afastem-se um pentelhésimo para o lado e eu que me vire pra sair. Custa sair do elevador, deixar a pessoa passar e entrar de novo? Gente, o que tá acontecendo com os mundos? Só tem gente mal educada, sem loção e distraída dos infernos.
Um dia, eu ainda me liberto de tudo isso e passo a subir de escadas. Não. Drástico demais. Não posso me arriscar a descompor meu visual. As freiras cegas que me criaram nunca me perdoariam se eu chegasse na sala suada com um cachinho dourado fora do lugar. Deus me livre. Então vou torcer pra inventarem logo aqueles elevadores rápidos dos Simpsons. Jetsons. Aqueles do futuro.