Meus dias na Europa - parte IIIAmsterdam é uma casinha de bonecas, como costuma dizer TodaFashion, que me abrigou por lá. Aqueles canais, aquele monte de bicicletas te atropelando, casas-barco, tudo igualzinho na novela. Lá tudo se faz a pé ou de bicicleta. No fim dos três dias, eu já dominava a cidade. É muito fácil andar lá e o povo fala um inglês bom de entender. Para decepção geral, não experimentei o bolinho de maconha e nem entrei numa cofee-shop, que é onde o povo vai pra fumar.
Amsterdam foi meu momento cultural, onde babei litros em frente às obras originais de Rembrandt, Van Gogh e outros pintores que a gente cresce vendo em ilustrações por aí. Na casa da Anne Frank, descobri que deve ter algum judeu lá nos meus patrasmentes, porque chorei de forma vergonhosa. E olha que nem li o livro. No Vondelpark, cansadas, nos jogamos em um banco do parque e de repente várias pessoas passavam pela gente e riam. Ficamos tentando decifrar o porquê. Pensamos que estavam achando graça da gente ser turista, estar tirando trocentas mil fotos, sei lá. Enquanto isso, umas pessoas esquisitas pararam uma bicicleta bem na nossa frente, e ficaram conversando, de vez em quando olhando pro nosso banco. Quando caiu a ficha de que a situação estava meio esquisita, nos rendemos e levantamos. Ato contínuo, as pessoas esquisitas ocuparam o banco. Tenho certeza de que aquilo ali deve ser um ponto de venda de drogas famosérrimo e as turistas otárias não sabiam. Por isso o banco estava vazio antes. E por isso todos passavam rindo. Deve ser igual a quando a gente vê turista admirando a escada supercolorida da Lapa, ponto preferido dos meninos de rua cheirando cola. Turista é turista em qualquer lugar.
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Holandês Voador, marido de TodaFashion, é uma figura que fala português, mas sempre rolam aquelas histórias engraçadas de estrangeiros que não sabem falar bem a língua. No primeiro almoço em Amsterdam, choramos de rir com um episódio que eles relembraram. Contam eles que estavam uma vez no carro com a família de TodaFashion e que Holandês fazia um discurso inflamado sobre como na Europa as pessoas têm oportunidade de crescer. Pra ilustrar o que queria dizer, ele fala:
- Vocês vejam só, eu, um simples filho de CARNEIRO, consegui ser bem sucedido, hoje sou executivo de uma empresa.
Aí rolou aquele silêncio, as pessoas ainda sob o impacto dessa revelação, quando TodaFashion esclarece:
- Não, Holandês... em português, que trabalha vendendo carne é AÇOUGUEIRO, não carneiro.
Foram três dias muito divertidos.
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Em Amsterdam, foi onde eu comprei uma camomila pra plantar em casa. Vem em uma embalagem fechada a terra e o saquinho com sementes, você planta as sementes na embalagem mesmo. Quando abri o tal saquinho, vi que as sementes eram minúsculas, aí já não sei se é assim mesmo ou se comprei uma macumbada. Na embalagem diz que vocês planta a semente e espera de duas a três semanas pra germinar. Ou seja, eu vou ficar com esse saco de terra aqui mais quase um mês até descobrir se deu certo. Comprei também uma tulipa no mesmo esquema, só que a tulipa é pior: você precisa guardar a embalagem na geladeira por OITO SEMANAS, e só aí plantar, e só aí esperar mais três semanas pra ver se germina. Olha. Eu não sabia que os holandeses eram tão pacientes. Deve ser por isso que lá os cordeiros se tornam executivos.