Essa semana, perdi Sassá preciosa. Ela veio pra mim quando eu tinha 15 anos. Foi presente de quatro amigos meus, que se dividiram pra me dar um pinscher porque eu tinha acabado de perder a Duda, uma filhote de seis meses, e fiquei arrasada. Aí, eles resolveram me dar a Samantha.
Ela chegou numa caixa gigantesca, só com a cabeça de fora. Logo que eu a vi, percebi que eles tinham comprado uma mutante, tadinhos: era pinscher misturado com sei-lá-o-quê (quando ela cresceu, vimos que provavelmente era pinscher com basset). Me apaixonei por aquele bicho imediatamente. Fiquei com medo de papai e mamãe Joselitos ficarem putos por terem que colocar novamente um cachorro no apartamento, depois da tristeza que foi a morte da Duda, mas meus amigos falaram com eles antes, eles já sabiam, então ficou tudo bem. Meus amigos era bem espertos. Só não sabiam reconhecer um pinscher, o que no fim foi bom, porque me trouxe a Sassá.
Samantha no início não queria comer e eu fiquei apavorada. Rezei pra São Francisco de Assis, fiz promessa, acendi vela. Então ela vingou e nunca mais ficou doente na vida. A gente nem levava no veterinário pra não dar ideia. Ela foi vivendo.
Era bravinha, a Sassá. Avançava nas pessoas. Latia. Defendia a casa. Rasgava as cartas que o porteiro jogava por baixo da porta, porque não se conformava com aquilo. Roeu algumas coisas quando era filhote. Destruiu coisas minhas. E era tudo lindo. Tudo o que ela fazia.
Sassá foi agitada a vida inteira. Corria toda a casa, apanhava coisas no chão pra mastigar. Só sossegou depois dos 14 anos. Antes, era filhote. Acreditem. Não sei de onde vinha tanta energia. Devia ser da banana e do presunto que ela comia todos os dias. Ela adorava banana. Parecia macaco.
Ultimamente, andava cansada. No último ano, ficou rapidamente muito cega e quase totalmente surda. Só o faro funcionava que era uma beleza. Quando fomos pra Massambaba no fim do ano, ela já não subia degraus muito baixos. Foi lá também que ela parou de comer ração, que foi a alimentação dela a vida toda. Passamos a dar carne, que ela comia totalmente esganada. Na primeira semana de janeiro, ela parou de comer totalmente. Desistiu de viver. Ficou farta. Então, no dia 12, às 22h15, ela se foi.
Viveu, a minha Sassá. Viveu ao meu lado 17 anos e meio. Faria 18 em julho. Conheço mais tempo da minha vida com ela que sem ela. Agora tenho a coleira da preciosa, muitas fotos e a lembrança de uma criatura de Deus que se foi pro céu dos cachorros. Onde deve ter muita banana, presunto e cartas pra ela destroçar.